Para as feiticeiras

Aos homens:

Uma "feiticeira" foi como, historicamente, as feministas européias chamavam uma mulher.

Pauline Julien, canadense, falecida prematuramente, dá um tapa forte em nossas machistas caras. A canção tem uns 6 minutos. É o tempo que devemos dispor para aprender como homenagear às nossas feiticeiras.

A tradução da canção fiz agora para vocês, homens. As mulheres devem aproveitar. Emocionante. Leiam por favor, com atenção:

Por favor

Sejam como cobertores.

Sejam como plumas de ganso

Das almofadas antigas.

Eu gostaria de

Não ser uma carregadora

Por favor, façam-se leves

Eu já não posso me mover

Eu os carreguei vivos

Eu os carreguei crianças

Deus! Como vocês eram pesados!

Pesando seus pesos de amor.

Eu os carreguei ainda

No momento das suas mortes.

Eu levei flores.

Eu lhes reparti meu coração.

Enquanto vocês brincavam de guerra,

Eu mantive a casa.

Eu usei minhas orações

Contra as grades de suas prisões,

Enquanto vocês morriam sob as bombas,

Eu os procurava gritando.

Eis-me aqui como um túmulo

E todo o mal dentro dele.

Esta sou eu

É ela ou eu

Aquela que fala ou que se cala

A que chora ou é alegre

É Joana d'Arc ou só Margot

Mulher de ondas ou de riachos

E é o meu coração

Ou mesmo o dela

E é a irmã ou a desconhecida

Aquela que nunca chegou

Aquela que veio tarde demais

Mulher dos sonhos ou do acaso

E é minha mãe

Ou a sua

Uma feiticeira

Como outras

Vocês precisam

Ser como o riacho

Como a água clara do lago

Que reflete e espera

Por favor

Olhem para mim! Eu sou real!

Eu imploro, não me inventem,

Vocês já fizeram tanto isso...

Vocês me gostaram como serva

Me queriam ignorante.

Se forte, lutavam contra mim

Se fraca, vocês me desprezavam

Vocês me gostavam como puta

Coberta com cetim.

Você me fizeram estátua

E eu sempre me matei

Quando eu estava velha e feia demais,

Vocês me eliminavam.

Vocês me recusavam ajuda,

Quando eu não servia mais.

Quando eu era bonita e submissa,

Vocês me adoravam de joelhos.

Eis-me aqui como uma igreja

Com toda a vergonha por debaixo.

Esta sou eu

É ela ou eu

Aquele que ama ou que não ama

Aquela que reina ou se debate

É Josephine ou Dupont

Mulher de pérola ou de algodão

E é o meu coração

Ou mesmo o dela

Que espera no porto.

Aquela dos memoriais aos mortos.

Aquela que dança e que morre.

Mulher-betume ou mulher-flor.

E é a minha mãe

Ou a sua

Uma feiticeira

Como outras

Por favor

Sejam como eu lhes tenho sido.

Eu lhes sonhei desde muito

Livres e fortes como o vento,

Também livre.

Olhem, eu sou assim

Conheçam-me, não tenham medo!

Quanto a mim, eu lhes conheço de cor.

Eu era aquela que esperava,

Mas eu posso andar na frente.

Eu era a lenha e o fogo

E incendiar também eu posso.

Eu era a deusa mãe,

Mas eu era apenas poeira.

Eu era o chão sob seus pés

E eu não sabia.

Mas um dia a terra se abre

E o vulcão não espera mais.

O solo rompendo-se descobre

Uma riqueza desconhecida

O mar, por sua vez vagueia

Uma violência ociosa

Eis-me aqui como uma onda

Vocês não serão afogados...

Esta sou eu

É ela ou eu

E que é a ancestral ou é a filha

Aquele que dá ou nega

Este é Gabrielle ou mesmo Eva

Mulher de amor ou de luta

E é o meu coração

Ou mesmo o dela

Aquela que se encontra na sua primavera

Aquela que ninguém espera

E é a feia ou a bonita

Mulher de neblina ou de céu pleno

E é a minha mãe

Ou a sua

Uma feiticeira

Como outras

Por favor

Por favor, façam-se leves

Eu já não posso me mover!

http://www.youtube.com/watch?v=COMDaYKJCWs