O mundo deveria ser feito de ópera
São Paulo, 17 de março de 2007
Faltam quinze minutos para o começo do espetáculo. É sábado, oito e quarenta e cinco da noite e trânsito intenso na Alameda Santos. Mas seria muita pretensão querer que fosse diferente, afinal, é a cidade de São Paulo. A ansiedade já me exterioriza fortes tensão e tremura. Sinais não tão bons para quem está de carona ao lado de uma amiga motorista, tão tensa quanto eu.
O trânsito, na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, onde fica o Teatro Abril, está tranqüilo. Felizmente, conseguimos chegar em tempo e estacionar em frente ao Teatro, mas em cima da hora. Entregamos o bilhete na entrada, subimos a escada mais próxima que vimos. O som de “The Phantom of the Opera” já estremece o Teatro. Erramos a escada, é do outro lado. Um segurança nos ajuda a encontrar a entrada certa.
Contagiada pela música e pela escuridão, paro por um instante, antes de me dirigir ao meu assento, agora eu já posso ver as cortinas se levantando para o começo do espetáculo. O que me ocorre, segundos depois, é como um passe de mágica: eu viajo, vejo e vivo, no Palco da Ópera de Paris, a misteriosa saga do “Anjo da música”.
Palco da Ópera de Paris, 1911
Raoul, o Visconde de Chagny, já está no leilão, oferece um lance por uma caixa de música. Aquele lugar lhe traz muitas lembranças, misteriosas lembranças. Os restos de um lustre, que vê num canto, o fazem voltar no tempo, 30 anos atrás.
Teatro da Ópera de Paris, 1881
Juventude de Raoul, nobre patrocinador do Teatro. É nos ensaios de uma nova obra, Hannibal, que o gerente do Teatro, Lefèvre, anuncia a sua saída e apresenta André e Firmin, os novos gerentes. Mal sabiam, os dois, que teriam de conviver com os misteriosos incidentes do local, atribuídos a um Fantasma.
Ficam sabendo, quando o primeiro deles acontece. Ao pedirem para a prima-dona, Carlotta, cantar, uma tela cai e quase a acerta, o que a faz ficar furiosa e abandonar o local.
O Fantasma manda uma carta exigindo, para si, um salário e um camarote exclusivos. Quem a entrega aos novos gerentes é Madame Giry, a mestra do balé.
A apresentação se aproxima. Precisam de alguém para substituir Carlotta. Meg, filha de Madame Giry, que faz parte do balé, sugere que dêem uma chance à companheira Christine Daaé. Meg sabe que Christine tem um segredo: ela tem aulas de canto com um misterioso mestre, mas não revela quem é. Diz apenas que ele é o “Anjo da Música”, que seu pai prometera enviar, um dia.
Christine faz uma apresentação, encanta Raoul. Após se apresentar, Christine descansa em seu camarim e Rauol vai até lá cumprimentá-la.
Quando Raoul vai embora e Christine fica sozinha de novo, ela recebe a visita mágica, através do espelho, do Fantasma. Ele a leva para o seu esconderijo, o labirinto no subsolo do Teatro, revela a sua admiração por Christine e diz que ela o inspira em seu mundo sombrio. Ela acorda no dia seguinte ouvindo uma música misteriosa, vai ver de onde vem, é uma caixa de música. A ausência de Christine fora notada, mas ninguém sabe onde ela está. O Fantasma a leva de volta para o mundo lá fora. Christine não tem dúvidas, encontrou o seu “Anjo da Música”.
O Fantasma manda cartas a todos e exige que Carlotta seja substituída por Christine, na apresentação da próxima ópera. As exigências do Fantasma não são atendidas. Christine ganha um papel sem fala. Ele se vinga: faz Carlotta coaxar como um sapo, em vez de cantar.
André não tem outra saída, permite que Christine substitua Carlotta. Mas outros estragos já estavam feitos: o corpo de Buquet, o operador dos panos de fundo e o único que viu Christine e o Fantasma saírem juntos do porão, cai do teto com uma corda amarrada no pescoço.
Raoul, apaixonado por Christine, a leva para o terraço do Teatro para protegê-la. Ele declara seu amor para Christine, sem saber que estava sendo ouvido. Enfurecido com o que acabara de ouvir, o Fantasma provoca, na apresentação seguinte, uma nova tragédia: no momento final, na hora dos agradecimentos e dos aplausos, o grande lustre que ornamenta o teto do teatro, cai sobre o público.
O Fantasma dá um tempo. Todos comemoram o seu sumiço e a chegada do ano novo. Christine e Raoul ficam noivos. Mas a alegria dura pouco. Enquanto comemoram, o Fantasma volta, apresenta sua nova obra, Don Juan Triunfante, e exige que seja montada.
Madame Giry é a única que sabe da identidade do misterioso homem. E Raoul exige que ela a revele para ele. É um ser anômalo, que fugiu de um circo, mas que tem o raro dom da música.
Christine, em estado de transe e triste, decide ajudar a capturar o Fantasma, aceitando protagonizar a sua nova ópera. Com isso, ele aparecerá para assistir e cairá na armadilha.
Christine vai visitar, no cemitério, o túmulo de seu pai e deseja vê-lo outra vez. O Fantasma, também, vai ao cemitério e vê Raoul chegar. Furioso com a presença de Raoul, o Fantasma agora quer se vingar dos dois.
A armadilha para capturar o Fantasma não tem sucesso. Ele consegue fugir, mesmo com a presença da polícia, e leva Christine junto.
Raoul pede ajuda a Madame Giry, já que ela é a única que sabe do esconderijo, ficara sabendo por Buquet, antes de ele ser assassinado. Eles vão até lá. Enquanto isso, no labirinto do subsolo, o Fantasma expressa sua ira, dizendo a Christine que nunca mais a deixará ir embora e ameaça matar Raoul.
Raoul chega e é amordaçado pelo Fantasma. Christine não o teme mais, diz que não se importa com a sua deformidade física, mas que está desapontada com a deformidade de sua alma, que ela o considerara por muito tempo, desde que seu pai se foi, o seu “Anjo da Música”. O Fantasma abdica, enfim, do seu amor por Christine e desaparece, para sempre... Deixando apenas sua máscara branca.
São Paulo, 18 de março de 2007
Passavam dos primeiros cinco minutos do dia, três horas depois de "viajar" àquele mundo mágico, as cortinas do Teatro Abril se fecham, as luzes se acendem, os aplausos duram, pelo menos, três minutos. Estou, ainda, em estado de êxtase.
Saio de lá e me deparo com meu mundo real. Um mundo cheio de fantasmas e espetáculos, mas que não são cantados. A magia da música deveria estar presente na vida e o mundo deveria ser feito de Ópera...
O FANTASMA DA ÓPERA - é um Espetáculo de Andrew Lloyd Webber
Dirigido por Harold Prince
Em cartaz no Teatro Abril, São Paulo.