Nova Velha Praça Roosevelt

Treis veis na nova Praça Roosevelt.

Não há nada de novo para olhar desde a primeira vez. Eu presto atenção, aqui sempre foi lugar nervoso, de passagem, perigo. E lembro. Quarenta anos de Praça Roosevelt, já vendi até chaveiro aqui...

Já joguei bola, já furtei o supermercado, já tomei geral, já tomei vinho, já fiz tanta coisa ali! Fiz primeira comunhão na igreja da Consolação.

São Paulo é assim, De quem é a Praça? É minha também...

Vou trabalhar, aproveito para passar na Praça. Eu caminho sozinho, só os dois carros de polícia, estacionados na Praça vazia. Nada de novo sob o Sol.

No caminhar eu coloco a cabeça no lugar.

A Praça é deserta, sem equipamentos, sem sombra. Incrível que na campanha para prefeito não se fale em sombra. Não se fala em descanso, em tranquilidade, em paz. Não se fala em ócio, em amor, em arte e em Vida, com V maiúsculo.

A nova praça é um quadrado quase único de cimento.

Os projetos de bancos, que ladeiam os projetos de jardim, onde estão os projetos de árvores, são usados para manobras de skate.

Entre tantos usos - passeio, jogar bola, estourar uns béquis, obscenidades de diversos graus - a praça é um pico de skate há 40 anos.

A Roosevelt era assim: concreto armado. Uma grande laje, dividida em micro praças e muitos esconderijos. Abrigo de vagabundos e ponto de encontro de malandros. Embaixo o Peg-Pag. Mais embaixo as quadras. Mais embaixo o parquinho.

Então aquele concreto armado, as curvas, as rampas, os ângulos retos, o cimento, faziam a Onda Dura, título do livro do Edu, lugar propício para manobras de skate.

Em 1976 com a turma do Mantiqueira andei de skate na Roosevelt.

Turma do Mantiqueira: Marcelinho Pereira, Micali Blouguras, Edgar, Heli, Marquinhos, Renato, Lua, Biju, Marcinho, Inácio, Vadinho, Emanoel, Richard, Miler, Juninho, Sérgio, Milton; com toda essa turma também joguei bola e andei de skate com o Edu e Fabio.

Slalom, Down Hill, etc. Manter-me no shape já era lucro pra mim.

Edu deve ter um metro e noventa, na época tava por aí também.

Conhecer uma família negra de classe média, como a do Edu, foi um dos milagres da minha infância no Mantiqueira, fora ter convivido com crianças americanas, famílias de angolanos brancos, e outra de angolanos negros. Convivi ali também com putas, travecos, viciados, policiais, professores, advogados, suicidas, uma santa de Belém do Pará e tanta mais gente: Madame Boni ! Zédu, Manolo, a vovó japonesa, a vovó escravatura, chineses, Antonio Francisco, ex- estudante de Coimbra, e também a mãe do Edu, a dona Maria José, a Zéti, uma funcionária pública federal, enfermeira e depois advogada, com quem se conversava de Krishnamurti a Retirada de Laguna.

Naquele dia há quarenta anos estávamos fazendo um slalom, colaram uns vagabundos derrubando os pinos e o Edu, absolutamente longe de ser malandro, fez os caras colocarem os pinos no lugar.

Treis veis na Roosevelt, 40 anos de Roosevelt. Desolação com um sol de 30 graus ás oito da manhã na cabeça, uma molecada de 12 anos andando de skate.

Fantasmas na cidade, eu nunca estou sozinho.