A bruxa tá solta
Hoje amanheci com o pé esquerdo, como diz a sabedoria popular.
Planejei sair e a chuva caiu forte, durante toda a manhã. O telefone tocou lá pelas nove e
alguns minutos. Ao atender, ouvi a gravação característica da Coelba:
- Caso você seja o Sr. Antonio, disque 2 para sim ou 3 para não.
Apesar de não ser a pessoa procurada, a conta de energia é em nome de Antonio, então disquei o 2. Não adiantou, a gravação repetiu a cantilena e apertei, de novo, o 2. Não sei por que a tecla do telefone falhou e, do outro lado da linha, desligaram. Fiquei pensativa.O que estava acontecendo? Seria alguma conta em aberto? Não retornaram a ligação.Decidi, então, ligar no 0800.
A gravação pediu para digitar outro número, indicando a opção correspondente ao assunto que eu queria. Felizmente, dessa vez a tecla do aparelho funcionou.Como prefiro falar com a pessoa ao invés de dar recado a uma máquina, despejei meu “ verbatório”, dizendo qual era o caso.
Do outro lado da linha, a moça disse que eu pudesse desligar, que a Coelba ligaria de volta. Expliquei que preferia que ela consultasse o n° do contrato e ditei os dados, pois temi que a tecla do aparelho estivesse em greve e repetisse o procedimento. E era uma conta em aberto, do mês de agosto.
Perguntei qual era o procedimento da empresa com relação ao corte de energia.
-Após 16 dias poderá ser executada.
- Tenho as seguintes já pagas – argumentei.
- Mesmo assim, senhora, uma está atrasada.
Mas como - pensei eu – se não me esquecia de pagar as contas (graças !!!!- pra não repetir o nome divino em vão ). Por que, então? Ah, naquele mês eu estivera em Pernambuco e, provavelmente, a conta fora desviada de endereço, ( ou será que nas minhas andanças a perdera?). Bom, se o caso era esse, parti para a internet a fim de imprimir a 2ª via. Tentei, várias vezes e não conseguia. Já ia desistir, quando deu certo (aliás, eu pensava que dera certo). Imprimi e a internet caiu .Respirei aliviada , ainda bem eu já estava com a via. Saí às pressas para pagá-la, com receio de encontrar a energia cortada.
Na Casa Lotérica, felizmente, encontrei um espaço para estacionar. Fiz o saque correspondente e, quando a funcionária passou o código de barra, não conseguiu quitar.Observou a 2ª via , me disse que não estava impresso o nº correspondente ao código de barra. Fiquei decepcionada.Como eu ia pagar com o cartão do Banco, já havia digitado minha senha.
- E agora, moça?
- Entrego a quantia correspondente ao saque e a senhora vai imprimir outra via.
Como eu não queria voltar para casa, perguntei à funcionária se havia uma lan house próxima e ela me indicou uma, do outro lado da pista, a qual eu já conhecia. Rapidamente, voltei ao carro estacionado, mas havia uma Van atrás do meu transporte. Pensei no malabarismo que eu teria que fazer para sair daquele lugar como “boa” motorista que sou (rs), no mínimo, corria o risco de bater na Van. Consegui sair “aos trancos e barrancos”, porém sem batida.
Chateada, tentei me consolar porque não chovia mais. Tive vontade de dizer umas boas para o motorista da Van, mas como “Seguro morreu de velho”, na atual conjuntura, é melhor sair calada e foi o que fiz.
Contornei a rotatória e, ao chegar no local onde funcionava a lan house, ela já não existia ali.Um senhor estava próximo e perguntei.
- A lan house fechou – me disse ele.
Cocei a cabeça para não xingar.
- Ah, desse jeito, quando eu chegar em casa, a energia já estará cortada – falei pra mim mesma, em voz alta e, perguntei se ele sabia onde havia uma mais próxima.
- A senhora vira à esquerda, depois à direita, sobe mais e vira à esquerda para depois virar à direita.
Tive uma vontade de xingar, não tive coragem, mas já estava fula.
Depois de virar tanto, quase ficando tonta e caindo nos milhares de buracos característicos desta cidade do oeste , não encontrei nenhuma lan house. Pensei, em voltar para casa mas temendo que a internet ainda tivesse off, aventurei perguntar a uma moça que passava na rua.
- Ah, senhora, por aqui não tem lan house, só na próxima rua,
-Subindo ou descendo?- perguntei, já tiririca de raiva.
-Descendo, perto da feira.
- Olhei o relógio e saí turbinada, até que encontrei a dita cuja.Estacionei. Ao travar o carro, outro veio em disparada, caiu num buraco cheio de água da chuva e me enlameou toda. Então, xinguei. Não agüentava mais.
- Vai ser azarada assim na Conchichina !-vociferei. P... que p... Droga!
Entrei na lan house azuada. Pedi para ser impressa a conta e saí à procura de uma Casa Lotérica, pois eu estava bem longe da outra. Perguntei a uma passante que me disse:
-Daqui a quatro quadras é a mais próxima.
-Hoje vou ficar no escuro – bradei.
- O que a senhora disse?
-Não falei pra você. É coisa minha.
Ela me olhou com ar que parecia dizer: tá de porre ou é esclerosada.
Caminhei rápido, atravessei poças de lama e nada de achar a Casa Lotérica. Saí do meio da rua, na qual descia uma enxurrada que mais parecia um riacho. Tentei subir na calçada, porém não me atrevi. Iria molhar o sapato e parte da calça. Vi uma pedra, subi nela e pedi a uma moça que passava :
- Ei, encoste aqui, por favor, e segure minha mão para que eu salte a enxurrada.
Ela sorriu e me ajudou.Agradeci.
Eu já estava chegando ao final da rua e não via nenhuma Casa Lotérica.
Na porta de uma loja, perguntei a um rapaz.
- É lá atrás. A senhora passou por ela.
-Mas que merda!- falei baixinho, com vergonha do rapaz.
Ao retornar , uma bicicleta , em velocidade, quase me atropela. Resmunguei, sem coragem de xingar o rapaz da bicicleta.
Enfim, na Lotérica! Paguei a conta e voltei tentando encontrar a rua onde eu estacionara o carro. Andei, andei, procurei, procurei e suspirei quando dei partida.
-Ufa, que dia, será que a bruxa tá solta?-falei comigo mesma.
Não, a bruxa não estava solta, pois ao chegar em casa, a energia não fora cortada.
Lição nº 1: preciso voltar a organizar minha correspondência;
Lição nº 2: parar de viajar como “turista forçada”.