Infrações Gravíssimas

INFRAÇÕES GRAVÍSSIMAS

Chega a me dar náuseas quando escuto burocratas neófitos usando espaços indevidos da mídia para ameaçar os cidadãos, brandindo seus dogmas pretensamente moralistas como se suas regras fossem um fim e não um meio. Hoje assisti pela tevê uma “otoridade” da Polícia Militar, enchendo a boca, ameaçando as pessoas com as penas decorrentes das “infrações gravíssimas” contra os motoristas que tenham ingerido álcool, com penas de prisão, perda da habilitação e outras mazelas da chamada “tolerância zero”. Acho que ameaças não levam a nada. Se não houver uma conscientização, o resto fica nas coisas temporárias.

Não há dúvidas que dirigir embriagado é um risco para si e para os outros. Muitos acidentes acontecem por causa dessa conduta. Mas isso não é tudo. Tem coisas ridículas: um rapaz foi detido depois de ter bochechado Listerine. Um padre, na Região Metropolitana de São Paulo foi preso, pois, ao celebrar duas missas, ingeriu duas doses de vinho. É verdade que em muitos sinistros de trânsito a bebida aparece como um elemento motivador. De fato, sob esse aspecto, dirigir bêbado é uma infração gravíssima. Mas não é só isto!

E as estradas sem duplicação, com conservação deficiente, esburacadas, sem acostamento, mal sinalizadas, onde não se encontra um policial, isto também não é uma infração pra lá de grave? Aí inverte-se o }ônus da responsabilidade! Essas aí, porém, por dependerem ao Poder Público, das instâncias fiscalizadoras e das “otoridades” não caem no crivo crítico da mídia e das campanhas moralizantes. O motorista alcoolizado é responsável por muitos acidentes, mas as estradas sem condições também concorrem para muitas tragédias.

Igualmente, o porte ilegal de armas é outra infração gravíssima. E as dificuldades para o cidadão obter um porte não é uma burocracia gravemente entravante? O cidadão desarmado e a bandidagem equipada com armamento pesado não é uma distorção grave? Como explicar isto? E o despreparo de alguns policiais, que atiram para todos os lados acertando bandidos e crianças inocentes não é um erro gravíssimo?

No carnaval vi a alocação de várias ambulâncias e centenas de policiais para a segurança e bem-estar dos foliões. Essas providências são salutares, só que nos demais dias são raros os policiais para as ocorrências nas ruas e mais raro ainda se obter uma ambulância para levar uma criança ao pronto-socorro, uma parturiente à maternidade ou um idoso ao hospital. Essas omissões também não são, do ponto de vista ético, moral e sociais, infrações gravíssimas? Se dirigir bêbado dá prisão e perda da carteira, qual a punição imposta a esse outro tipo de falta? Um hospital sem médico é uma infração gravíssima. Quem vai preso ou perde o registro nesse caso? Ninguém! No máximo, o pobre perde a vida...

Na quinta-feira depois do carnaval fui a Tramandai (BR-290). Fui e voltei e não vi nenhuma viatura da polícia, “otoridades” nem radares. Estariam de ressaca?