D/C - UMA CRÔNICA DESPRETENSIOSA.
 

É claro que o amigo e a amiga já conhecem a abreviatura que titula esta crônica.

Se vocês responderam que sim e que ela quer dizer "depois de Cristo", desta vez erraram, porque o que quis abreviar foi "depois do carnaval".

Hoje, dia da imposição de cinzas, ainda restam umas tantas Fenix, insistindo em renascer, mas, afinal, na realidade, terão vida efêmera.

Na montanha de confetes e serpentinas, de cambulhada com toneladas de latinhas de cerveja, são também levados tantos sonhos, tantas quimeras, tantas dores, tanto sofrimento e tanta crueldade.

Levados pelos ventos, rodopiam no espaço colombinas, arlequins e pierrôs, num eterno triângulo de amor, imitando a vida.

Como num enorme carro alegórico, desfilam as inconfundíveis misérias humanas; crianças abandonadas, crimes passionais, motoristas assassinos, alcoólatras, viciados, ladrões de galinhas, todas semiencobertas pelas enganadoras máscaras da permissividade.

A quarta-feira de cinzas me parece o vácuo, uma espécie de quarta dimensão, algo como o pesado silêncio que precede a tormenta, assim como um hífen espacial.

É o dia em que a ficha ainda não caiu!

Mais adiante, os efeitos da festa pagã se farão esmagadoramente presentes e seu peso vai ser dolorosamente sentido; acabou a loucura e a razão que chega já está despojada da fantasia e sua máscara, agora, nada terá de comicidade. Dentro de 9 meses, vão chegar à luz os "filhos do carnaval", muitos dos quais, estigmatizados pela data, terão futuro sombrio.

Mas, tirante tudo o que disse, como carioca e ex-boêmio, folião do baile da Bola Preta e do famoso High-Life, dos quais a turma da velha guarda lembra muito bem,como carioca, dizia, me empolgo com a alegria esfuziante do nosso povo; dos renascentes blocos de bairro que, hoje, arrastam verdadeiras multidões, que podem chegar a 2 milhões de participantes; da genuína intenção de, apenas, "pular o Carnaval".

Aprecio e me divirto demais com os nomes criados pelos blocos "pé no chão" e, pasmem, recebi um livreto impresso pelo "O Globo", que contém a indicação de cerca de 400 grupos, onde sobressaem os seguintes: Parei de Beber, Não de Mentir – Encosta Que Ele Cresce – Suvaco do Cristo – Perereca Imperial – O Berro da Viúva - Virilha de Minhoca, Entorta Mas Não Cai, Bate Pra Mim Que Eu Tô Cansado, além de dezenas de outros mais ou menos impublicáveis, o que reafirma, de forma inequívoca, o espírito irreverente da nossa gente.

Arremate-se tudo com o desfile das grandes escolas de samba, espetáculo único no planeta, pleno de beleza, de cor, de graça e embalado pelo ritmo alucinante das enormes baterias e pelo maravilhoso rodopio das duplas de mestre-sala e porta-bandeira e dos imensos e luminosos carros alegóricos, e, então, apesar do cinza com que iniciamos esta crônica, poderemos dizer que o saldo foi positivo!

Tanto, que já estou pesquisando temas para a fantasia do ano que vem!

 

(não deixe de ler o colega Ciro Fonseca)

paulo rego
Enviado por paulo rego em 13/02/2013
Reeditado em 13/02/2013
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