Minha bolsa importada.
Instagram. É assim que se chama o site. Fotos. Cada um usa como quer. Bem usado pode ser uma ferramenta útil para o propósito que se quer. Desde que seja uma proposta útil ou prazerosa. Segui uma pessoa, não importa quem. Seu propósito é divulgar as coisas que tem. As coisas que temos também mostram quem somos. Alguém quer ver minha unhas, com meu dedo anular filho único? Acho que não. E minha bolsa importada? Ah, a minha bolsa importada, acho que essa vale a pena mostrar. Ela é muito interessante. Eu a trouxe da Itália, quando estive lá. Não tenho muita certeza, mas acho que a trouxe de Veneza. Sei lá, pode até ser de outra parte da Europa.
Eu nunca tinha visto um negro tão negro como aquele. Tão negro que chamou minha atenção. Muito alto, as pernas compridas, os braços servindo de cabide para as bolsas. Parei para ver, não as bolsas, o homem. Deduzi ser nigeriano, alguém já havia me comentado a respeito da quantidade de imigrantes nigerianos por ali. Penso que no Brasil não existam negros assim, tão negros. Fiquei encantada observando a pureza e a beleza da raça, mas ele se virou e deu de cara comigo olhando. Achou que eu estava interessado nas bolsas. Sem graça, fui olhá-las e me interessei por uma, Xadrez preto e branco. Da mesma forma que nunca vi um branco realmente branco, nunca tinha visto um negro realmente preto. Deve ser por isso que sorri e ele entendeu esse sorriso como aceitação da mercadoria. Cem euros, era o preço. Fiz as contas e achei que não valia a pena, seria pouco usada. Disse não e me afastei. De onde estava já avistava o nosso ônibus, estavam a minha espera. Acelerei o passo e ele também, o vendedor de bolsas. Ele me alcançava e quando isso acontecia, o preço descia. Eu dizia não e acelerava outra vez. Noventa, Oitenta. Setenta. Sessenta. Já estava me considerando na São Silvestre, eu na frente e ele atrás, quase me atropelando. Cinquenta. Quarenta. Trinta. Vinte. Dez. Quando coloquei o pé no segundo degrau para entrar no ônibus ele ameaçou entrar também. Capitulada eu disse: Five, e ele me entregou a bolsa. Envergonhada e triste eu lhe entreguei uma nota de dez euros e não esperei o troco. Só em casa, já no Brasil, vi como a bolsa era realmente bonita.Hoje, apesar de pouco usada, ela tem lugar de honra entre as minhas bolsas. Importada. Falsificada.Merece ou não merece uma foto no Instagram? Só que lá não vou contar esta história porque lá a história é outra.
Lá, se fizer isso, serei uma instachata. E existem vários tipos de chatos nessa rede social de compartilhamento de imagens. Li na Folha hoje. Conforme as fotos compartilhadas somos denominados por maneiras diferentes. Fashionista, Narcisista (fotos de si mesma). Felícia (em alusão a personagem do desenho Tiny Toons), que só coloca fotos de bichos de estimação.Tem o Pai/Mãe Felícia (imagens dos filhos), A Bicuda (fotos fazendo caras e bocas),o Malhado,o Baladeiro, o Cozinheiro e o Turista. Esses chatos foram assim denominados por Hugo Gloss que admite também ser chato às vezes. Eu porém não sou chata. Ainda.Não tenho instagram.
Instagram. É assim que se chama o site. Fotos. Cada um usa como quer. Bem usado pode ser uma ferramenta útil para o propósito que se quer. Desde que seja uma proposta útil ou prazerosa. Segui uma pessoa, não importa quem. Seu propósito é divulgar as coisas que tem. As coisas que temos também mostram quem somos. Alguém quer ver minha unhas, com meu dedo anular filho único? Acho que não. E minha bolsa importada? Ah, a minha bolsa importada, acho que essa vale a pena mostrar. Ela é muito interessante. Eu a trouxe da Itália, quando estive lá. Não tenho muita certeza, mas acho que a trouxe de Veneza. Sei lá, pode até ser de outra parte da Europa.
Eu nunca tinha visto um negro tão negro como aquele. Tão negro que chamou minha atenção. Muito alto, as pernas compridas, os braços servindo de cabide para as bolsas. Parei para ver, não as bolsas, o homem. Deduzi ser nigeriano, alguém já havia me comentado a respeito da quantidade de imigrantes nigerianos por ali. Penso que no Brasil não existam negros assim, tão negros. Fiquei encantada observando a pureza e a beleza da raça, mas ele se virou e deu de cara comigo olhando. Achou que eu estava interessado nas bolsas. Sem graça, fui olhá-las e me interessei por uma, Xadrez preto e branco. Da mesma forma que nunca vi um branco realmente branco, nunca tinha visto um negro realmente preto. Deve ser por isso que sorri e ele entendeu esse sorriso como aceitação da mercadoria. Cem euros, era o preço. Fiz as contas e achei que não valia a pena, seria pouco usada. Disse não e me afastei. De onde estava já avistava o nosso ônibus, estavam a minha espera. Acelerei o passo e ele também, o vendedor de bolsas. Ele me alcançava e quando isso acontecia, o preço descia. Eu dizia não e acelerava outra vez. Noventa, Oitenta. Setenta. Sessenta. Já estava me considerando na São Silvestre, eu na frente e ele atrás, quase me atropelando. Cinquenta. Quarenta. Trinta. Vinte. Dez. Quando coloquei o pé no segundo degrau para entrar no ônibus ele ameaçou entrar também. Capitulada eu disse: Five, e ele me entregou a bolsa. Envergonhada e triste eu lhe entreguei uma nota de dez euros e não esperei o troco. Só em casa, já no Brasil, vi como a bolsa era realmente bonita.Hoje, apesar de pouco usada, ela tem lugar de honra entre as minhas bolsas. Importada. Falsificada.Merece ou não merece uma foto no Instagram? Só que lá não vou contar esta história porque lá a história é outra.
Lá, se fizer isso, serei uma instachata. E existem vários tipos de chatos nessa rede social de compartilhamento de imagens. Li na Folha hoje. Conforme as fotos compartilhadas somos denominados por maneiras diferentes. Fashionista, Narcisista (fotos de si mesma). Felícia (em alusão a personagem do desenho Tiny Toons), que só coloca fotos de bichos de estimação.Tem o Pai/Mãe Felícia (imagens dos filhos), A Bicuda (fotos fazendo caras e bocas),o Malhado,o Baladeiro, o Cozinheiro e o Turista. Esses chatos foram assim denominados por Hugo Gloss que admite também ser chato às vezes. Eu porém não sou chata. Ainda.Não tenho instagram.