Paixões Coletivas.
Hoje fiquei apaixonado no ônibus. Em uma parada qualquer, uma moça bastante bonita subiu no transporte e sentou-se nas cadeiras do lado direito. Seu rosto era pálido como a neve, contudo o calor de um ônibus ao meio-dia é mais influente. Pensei em perguntar as horas, porém o sol já estava respondendo minha pergunta. Não havia ninguém no ônibus, além do trocador e do motorista, é lógico, isso diminuía minha timidez para perguntar seu nome. Seu rosto era pálido com uma pinta do lado esquerdo, parecendo um ponto final em uma folha de papel, mas sua pele inteira era uma interrogação para mim. Eu poderia passar da minha parada para ficar contemplando aquele ser se não fosse pela voz que interrompeu meus devaneios, “Água mineral, olha a água mineral... Psit psit!”. Depois do susto, o vento da janela trouxe de volta a calma e a nova chance de admirar aquela menina. Seu cabelo estava preso, alguns fios fugiam daquela organização, e mais fios, mais fios e mais. Os fios anarquistas levaram a moça a fazer o mais belo movimento que uma mulher pode fazer... Ela soltou os cabelos. Fiquei hipnotizado, os fios conseguiram a liberdade em troca da prisão dos meus olhos. Seus cabelos serpenteavam, não era a Medusa, mas eu já era pedra. De repente começo a voar, não na imaginação, é que o ônibus passara por um quebra-molas, volto para a realidade. Então percebo que nunca havia passado por aquelas ruas, aquelas árvores, eu havia entrado no ônibus errado. Desci em uma parada qualquer, cheguei atrasado e com fome em casa, mas depois de ver aquela menina pergunto-me se realmente estava no ônibus errado.