UM ACIDENTE COM FINAL FELIZ.

Incrível como, a cada final de ano ou às vésperas do que o povo alcunhou de "feriadão", apesar de todo mundo saber que o perigo ronda as estradas, que as autoridades cansem de chamar a atenção dos motoristas, que o serviço de meteorologia emita boletins e boletins sobre as condições atmosféricas, continuam a acontecer e encher as manchetes dos jornais as tragédias que dizimam famílias inteiras.

O que leva, afinal, um chefe de família a agir dessa forma?

Ele leva em seu veículo tudo o que, em sua vida, representa o que mais preza, mas mesmo assim, muda seu comportamento quando está atrás do volante; trasmuda-se do pacato e equilibrado cidadão numa espécie de Mr Hyde e comete as mais perigosas (e até criminosas) barbaridades no trânsito. Por que?

Tenho por lema, no particular, que quem está com pressa deve sair na véspera!

Feliz do infeliz que age tresloucadamente, se tiver como copiloto uma equilibrada mulher, que o traga à realidade, que o faça retornar à sanidade, que lhe passe o maior sermão, que o ameace de sair do carro com as crianças e deixar o suicida matar-se sozinho e contra uma árvore ou mureta, para não levar com ele outras inocentes criaturas.

Eu até que não concordo plenamente com os limites fixados pela Lei Seca com respeito ao teor alcoólico no sangue. Acho que é baixo demais e os efeitos alardeados pelas autoridades, sinceramente, pelo menos a mim, não fazem a menor diferença.

Se eu tomar dois ou três chopes, vou levar meu carro sem nenhum problema, sem pôr em risco a vida de ninguèm e muito menos a da minha família.

Mas uma coisa jamais fiz em minha vida; viajar com bebidas à bordo para consumo no trajeto!

Um teste melhor do que o do bafômetro todos os pinguços do mundo estão carecas de saber; - Faça um quatro aí ou caminhe sobre uma linha reta sem sair do rumo.

Se o bafômetro assegurar que eu não tenho condições de dirigir, mas eu fizer um quatro perfeito e caminhar em linha reta irrepreensível, então eu posso prosseguir...mas como a lei não deve particularizar, igualou por baixo e, realmente, é melhor pecar por excesso do que por carência. Porém, isso são apenas conjecturas e só serviram como prólogo para o que segue, que tem como base um acidente também!

Saí de casa sóbrio, viajei, não bebi nada alcoólico e cheguei ao sítio, graças a Deus, muito bem!

Era 31 de dezembro de 2012 e eu estava no alpendre da casa , em Friburgo, me deleitando em ver os pássaros enxameando o comedouro e as pseudo-batalhas aéreas dos beija-flores, brincando de disputa dos bebedouros; um verdadeiro balé alado!

De repente - tum! Um som cavo, mas pesado, me assusta e logo procuro pela causa.

Noto, no piso da varanda, um volume estranho e me aproximo cautelosamente; era um pássaro grande, caido de costa e inerte! Pego-o com rapidez e percebo que seu bico está entreaberto, mas seus olhos estão vivos e suas pálpebras com movimento normal; ele, apenas, não se mexe e creio que se encontra como que seminocauteado!

Acredito que, não familiriazado com o local, tenha confundido a parede branca como um espaço vazio e se chocado, com violência, contra ela.

Corro para a torneira mais próxima e dou-lhe um banho e, baixinho, peço que ele não morra às vésperas de um novo ano. Ponho-o no colo, em posição normal e ele ali fica, movendo, apenas, os olhinhos assustados. Abro suas grandes asas e movimento-as simulando um voo. Ele reage, recolhendo-as e tentando mover-se, mas suas pernas se negam a elevar seu corpo e ele retorna à passividade. Instintivmente, recomeço a simulação de voo e suas reações se aceleram, até que suas pernas voltam a suportar o peso do corpo. Deito-o na grama, ao sol, e ele alí fica até que seu corpo esteja totalmente seco. Depois, ensaia batidas de asa e, logo, logo, eleva-se em desajeitado mas , para mim, maravilhoso voo e se vai.

Após aquele banho salvador, seu topete amarelo desmilinguiu e o lindo Pica-pau amarelo ganhou o nome de Neymar, cuja foto ilustra esta crônica com um final feliz

Dou graças a Deus por ter atendido à minha súplica e volto ao meu costumeiro estado contemplatório..

(não deixe de ler a colega Valéria Dantas)

paulo rego
Enviado por paulo rego em 05/02/2013
Reeditado em 05/02/2013
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