A terra cobriu os sonhos de Santa Maria.

Só quem teve essa dor pontiaguda dilacerando cada rincão da alma sabe o que foi sentido na madrugada de domingo passado.

Depois ver a terra cobrindo o caixão daquele que, pouco tempo antes, era só alegria, só disposição, só vida.

Depois ver a terra cobrindo com a lerdeza que regem algumas despedidas, sabendo que nunca mais teria de volta qualquer teco da sua voz, qualquer fiapo do seu cheiro, qualquer traço do seu sorrido.

Depois ver a a terra cobrindo com a plenitude eterna de que não teria mais o direito de beijar seu rosto, arrumar sua cama, preparar seu prato de comida.

Naquela hora o que restou daquela vida escorreu pelos ralos infinitos desta saudade que vinha ao mundo com ossos robustos, para nunca mais deixar de ser, de existir, de dilacerar.

Cada grão de terra que era jogado sobre o caixão dizia muito da raiva por ter um dia nascido, crescido e ter sido capaz de fazer um filho só pra vê-lo ali, duro e gelado, sem poder responder aos tantos choros, tantos silêncios, tantos pesares.

Que a terra que agora só servirá para protegê-lo do frio deste mundo para o qual foi sem dizer adeus, seja capaz de fazer todos que o amaram a comprender os estranhos caminhos da vida.

O texto acima foi escrito por um pai que tem o privilégio e a felicidade de ter todos seus filhos vivos e é uma manifestação de solidariedade aos outros que tiveram este direito decepado pelo descaso, ganância, incompetência e absoluto desrespeito pelos seus semelhantes na tragédia que marcará para sempre a história do povo de Santa Maria.

-----------------------------------------------

visite o meu site www.vidaescrita.com.br

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/02/2013
Reeditado em 03/02/2013
Código do texto: T4120604
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.