O dia de Lucas parecia sombrio.
Após adentrar o apartamento, buscou imediatamente o quarto.
Vestido e sem tirar o sapato, deitou-se na cama com uma grande sensação de fracasso.
“Melhor seria que aquele dia nunca tivesse existido!”, concluía o cabisbaixo Lucas.
 
Durante o almoço proposto por Fabi, as palavras duras e frias que a ex-noiva proferiu suscitaram uma dor a qual não é nada fácil apagar.
Fabi resolveu terminar o noivado de dois anos, porém o fim do romance não o incomodava tanto quanto as acusações as quais a formosa jovem lhe fez.
Há tempo ela sinalizava que o encanto não existia mais, entretanto jamais Lucas imaginou a amargura e mágoa revelada.
“Onde eles teriam errado?”
“Por que as flores que hoje colhemos amanhã viram espinhos?”
“Como compreender os mistérios do coração?”
Várias indagações atormentavam Lucas, uma dor de cabeça começou a perturbar os pensamentos confusos do triste moço.
 
No final da tarde, a resposta referente ao emprego com o qual contava, já compondo os planos dele, foi negativa.
A vaga tão esperada teve que ser descartada.
Restava, então, a Lucas o desafio da renovação compulsória.
Ele precisava voltar a procurar o seu segundo emprego e necessitava encontrar uma nova mulher a qual ele quisesse tornar a eterna companheira.
A razão lhe dizia tais coisas, contudo o âmago estava completamente vazio. Não conseguia deslumbrar um porvir promissor.
Apesar de valorizar o otimismo, temia um horizonte nublado.
Desejou muito adormecer, no entanto o sono não surgia, a dor de cabeça aumentou, um desalento profundo invadiu a alma do rapaz.
 
Lucas chorou.
Lágrimas que não sabia conter apareceram, lágrimas que ele permitia sem qualquer resistência.
Se sentia frágil, coração ferido, mente desanimada, corpo cansado, a solidão implacável que teria de enfrentar o assustava, a necessidade de recomeçar, de refazer os passos...
Transformou tudo em lágrimas que duraram vários minutos.
 
Lucas escutou a campainha tocando.
O rapaz estranhou, pois não aguardava ninguém e o horário era um pouco avançado.
Meio contrariado pela interrupção do choro incontido, resolveu verificar.
“Quem seria?”
Abrindo a porta, surpreso viu Tia Lina que sorridente falou:
_ Olá, Luquinha! Hoje vim visitar uma velha amiga, ela mora próximo ao seu AP. Quando saí da casa dela, senti vontade de ver o meu sobrinho adorável. Que tal? Gostou da surpresa?
 
Tia Lina não era simplesmente a querida irmã da mãe de Lucas.
Depois que sua mãezinha partiu, Tia Lina tornou-se uma conselheira, uma amiga, uma confidente, um verdadeiro anjo que espalhava uma ternura inigualável.
Conversar com Tia Lina fazia um imenso bem a Lucas.
Desfrutar a companhia da nobre senhora proporcionava um prazer indescritível.
Ao lado dela, as agruras nenhuma ênfase mereciam, eram pedras, ou melhor, pedrinhas que Lucas facilmente retirava do caminho.
Lucas adorou a visita, mas não entendeu a presença dela naquele momento porque pensou que a tia tão carismática estava passeando, curtindo mais uma viagem (após conquistar a justa aposentadoria, Tia Lina aproveitava o tempo conhecendo cidades que os amigos indicavam).
 
Depois de alguns segundos meio anestesiado e muito emocionado, Lucas escutou:
_ Posso entrar ou não posso, Luquinha? Perguntou Lina descontraída.
_ Claro, tia! Claro!
Já na sala, Tia Lina questionou:
_ Luquinha, o que está ocorrendo? Noto o seu semblante desanimado, vejo olheiras, você estava chorando?
_ Não, tia!
_ Pode desabafar comigo, meu amado sobrinho! Algum problema, Luquinha? O noivado vai bem? Cadê Fabi?
_ E o emprego que você estava batalhando? Não vai dar pra ficar o tempo todo só com a pensão dos seus pais, certo?
_ Fala, Luquinha! Está tudo bem?
 
_ Já passou, tia!
_ Já passou? Você não estava bem antes de eu chegar?
_ Eu estava com uma dor de cabeça me incomodando, porém, depois que te vi, ela sumiu.
_ Já passou mesmo, querido?
_ Já passou, tia! Sabe por quê?
_ Por que, Luquinha?
_ Porque sua presença é semelhante ao sol me presenteando com a luz de uma agradável manhã! Porque a senhora é o meu ânimo, a minha motivação, a minha alegria! Porque te ver me traz bastante felicidade, me leva a esquecer as inquietações e todos os problemas!
_ Que dengo é esse, Luquinha?
_ Não é dengo, não, tia!
_ Ah! Linda tia! Eu ainda vou continuar batalhando o meu segundo emprego, infelizmente vou ter de esquecer Fabi, no entanto eu posso te afirmar que isso agora não me preocupa nem tem importância alguma!
_ A senhora está aqui! O seu sorriso está aqui! A senhora veio me visitar! Eu posso contar com o seu carinho e afeto! Eu tenho o seu colo precioso! Eu tenho os seus abraços gostosos!
_ Eu não disse isso antes, mas a senhora é a minha coragem, a minha esperança, a minha certeza de que Deus sempre está comigo! A senhora é a minha paz, a minha inspiração, a minha energia, enfim, a senhora é a minha vida, a senhora é tudo!
_ Eu te amo, Tia Lina!
 
Os dois se abraçaram chorando.
As lágrimas dessa vez transmitiam uma magia capaz de comover o indivíduo mais insensível do planeta.
A cena provocava uma emoção difícil de descrever!
Talvez um bom poeta conseguisse traduzir em versos o que estava acontecendo ali!
Lá fora, naquela noite especial, as estrelas brilharam com uma intensidade maior como se estivessem celebrando tamanho espetáculo repleto de amor e beleza.
 
Tia Lina ficou o resto da noite conversando com Luquinha.
Os dois saborearam um bolo que ela fez acompanhado de um café preparado por Lucas.
O papo fluiu agradabilíssimo.
Tia Lina, cedendo à insistência do sobrinho, dormiu no apartamento de Lucas na cama principal. Ele resolveu descansar no quarto de visitas.
O rapaz adormeceu leve e satisfeito.
O dia de Lucas já não parecia sombrio.
 
Sombrio?
Por que eu escrevi isso?
Como o dia de Lucas poderia ter sido considerado sombrio?
Claro que haverá dias nos quais Lucas ou qualquer pessoa enfrentará desilusões, experimentará frustrações, escutará “Não!”, sentirá o coração oprimido, mas tais desencantos justificam que o dia mereça o “rótulo” de sombrio?
Quando a tristeza é enorme e a aflição nos alcança com uma grande força, devemos perseverar, nunca deixando de seguir em frente.
Nesse instante eu penso que vale muito a pena acreditar e realizar.
 
Exatamente nas horas complicadas demais, quase insuportáveis, nosso olhar menos precipitado permitirá percebermos a doce presença das Tias Linas que a vida gentil e bela sempre oferta.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 29/01/2013
Reeditado em 29/01/2013
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