Estrelas para uma criança
Quando criança adorava olhar estrelas. Imaginava que cada uma delas era uma pessoa que havia partido deste mundo. As estrelas maiores e mais brilhantes eram as mais novas, as mais apagadas e pequenas eram estrelas cansadas do tempo. Quando o céu estava estrelado, pensava que havia uma festa e quando elas sumiam deixando a noite limpa, acreditava que estavam em outro lugar, exibindo seu brilho a outras pessoas.
Me acalmava olhar estrelas, era como se sorrissem para mim. Conseguia passar horas as observando e me sentia bem com isso. Olhar para o céu e procurar as Três Marias era como encontrar velhos amigos, só não podia apontar os dedos para elas, minha mãe dizia que de duas uma, ou nasceria verrugas na ponta ou os dedos caiam com o tempo.
Na verdade, esses momentos em que observava o céu antes de dormir, me traziam o silêncio e a compreensão que as pessoas nunca me ofeceram. Estava rodeada de pessoas que me cuidavam, amparavam, que julgavam o que eu fazia de diferente das outras crianças, aliás as pessoas ainda fazem isso hoje. Não gostam de nada fora dos padrões, isso implica em mudanças e mais que isso, implica em não ser normal em relação aos demais.
Com as estrelas era diferentes, apenas nos contemplávamos, como num namoro a moda antiga. Quando se é criança não existe coisa certa ou errada, apenas existe o que se tem que ser feito, não existe possível ou impossível, mas existe sonhos, brincadeiras, coisas que precisam ser realizadas, alcançar as estrelas não deveria ser um problema, nem mesmo ciência alguma iria conseguir convencer minha teoria sobre elas.
O tempo foi passando e a medida que crescia apreciava menos as estrelas. Quando as pessoas crescem deixam de acreditar nas emoções de quando criança, perdem a sensibilidade no olhar, a diversão de um banho de chuva ou a descoberta na escolinha da metamorfose de uma borboleta. O diamante passa a ser o tempo, vivemos sobre datas e números, eternamente enquanto vivos em busca de algo.
Mas hoje, especialmente, sentei na varanda e comecei a olhar para o céu, aos poucos os sentimentos descritos anteriormente penetraram em minha cabeça e chegaram até o coração, como num filme, um curta metragem da criança que ainda vive em mim, esperando momentos como esse para libertar-se.