Povo chamado Brasil.
Povo talhado, mesclado, ungido, untado,
tantas cores se banham nas suas lágrimas,
tantos cheiros habitam seu quintal.
Povo sofrido, chicoteado, pisado,
quiseram retalhar suas asas,
quiseram domar seu respirar,
quiseram matar seu suor,
em vão.
Povo da ginga, do quilombo, das ocas benditas,
seu sangue é a mistura dos sangues do mundo,
sua voz é mambembe, caminha por onde o vento mandar.
Raiz forte, de pés descalços, calejados sem trégua,
por onde vai não deixa pegadas, deixa âncoras.
Povo que vibra ao cantar singelo das águas,
sabe tirar gosto do nada e fazer disso sua maior ceia,
sabe os mistérios dos homens e os encantos de suas fêmeas.
Povo sábio, traduz os sussurros das florestas como ninguém,
tem calor no olhar, tem aço no gostar,
sua asa de cantador faz o tempo perder seu destino,
no tilintar dos seus ossos Deus compõe suas maiores cantigas.
Nos remendos da sua alma, a vida se espreguiça
e abraça o que tem de melhor,
de mais lindo, de mais feliz.
Povo chamado Brasil.
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