Presente de Grego
Dionísio amava os animais. Em sua casa tinha um sapo de estimação que, de manhã, saía para o quintal e, á noite, voltava para dormir no banheirinho de fora.
Célia, a filha caçula, não tinha medo dele, apesar de ser um baita de um sapo. Ela só não gostava daquele olhão lhe espiando quando estava sentada no "trono".
- Manhêêêêê, o sapo está me olhaaaaando!
- Larga de ser boba, menina! Sapo não entende nada!
- Eu heeeeem! Então, por que ele me olha taaaaanto!
Quando ela se casou, ficou com saudade do batráquio. Nas cartas sempre perguntava por ele. Afinal de contas, eles cresceram juntos.
Dionísio nunca matou nenhum bicho. Cobra era a esposa que matava.
- Corre, Madalena! Tem uma cobrona aqui no quintal! E é uma Jararaca!
- Já vou, Dio!
Madalena, muito corajosa, com um pedaço de pau matava o bicho, num instante.
Toda aranha caranguejeira que aparecia, ele pegava com uma caixa e soltava longe de casa. Fico imaginando o que ele ia lhe falando no caminho:
- Vá para sua casa direitinho e cuide bem dos seus filhotes.
Coração bom igual ao do Dionísio é difícil encontrar outro.
Certo domingo, Célia foi à missa na Matriz Nª Sª do Carmo, às nove horas, com o José, seu namorado, e voltaram de mal. Não sei porque os namorados gostam tanto de brigar.
Os dois ficaram mudos um tempão, sentados no murinho da varanda.
O rapaz, querendo puxar assunto com a moça, disse:
- Querida, vou lhe dar um presente!
E pegou uma caixa de sapato, que estava na parte mais alta do muro, colocou-a bem perto do rosto dela e tirou a tampa.
- Isto é para você ficar de bem comigo!
- Papaaaai! Socoooorro! - a jovem gritou e caiu durinha para trás.
José não sabia o que fazer. Ficou desesperado.
- O que aconteceu, filha?!
O namorado, muito sem graça, disse:
- “Seu” Dionísio, eu não sabia que tinha uma aranha enorme dentro da caixa. Aí, né...
Anna Célia Dias Curtinhas