O LIXO E O BICHO

VI ONTEM um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

(Manuel Bandeira)

Esse ano, eu passei o réveillon em casa. Pela televisão fiquei maravilhado com os fogos de artifícios na praia de Copacabana. Contudo, no outro dia foi mostrada pela televisão, uma quantidade assombrosa de lixo deixada pela multidão nessa mesma praia. Foram 140 toneladas de restos de comidas, garrafas, copos descartáveis jogados fora pelas pessoas que vieram comemorar o final do ano. É interessante notar, que muitas dessas pessoas são as mesmas que reclamam do governo, da corrupção, dos impostos e até da poluição. Entretanto, contraditoriamente promovem todo ano aquela sujeira numa das regiões mais bonitas do planeta. Uma consulta rápida pelo espaço virtual da internet mostrou-me que a metade do alimento produzido no mundo vai para o lixo sem ser consumido. Ademais, consomem-se mal e não se joga o lixo no lixo, principalmente em nosso país.

A última vez que passei o final de ano longe de minha terra foi a mais ou menos há 10 anos, na praia de Itamambuca, município de Ubatuba-SP. Uma praia maravilhosa, infelizmente e da mesma forma que Copacabana, o lixo foi depositado sem parcimônia nas lindas margens praianas. A prefeitura local disponibilizou lixeiras em toda a praia, contudo os banhistas fizeram questão de jogar toda porcaria no chão e dentro d’água, desrespeitando a natureza e as recomendações do poder público. Outra falta de higiene observada, foi a de alguns indivíduos levarem seus cães para passear sem o devido “saquinho” para coletar as fezes dos animais. Uma calamidade, observar todo aquele estrume animal ser depositado no solo pelos caninos, com a aquiescência dos respectivos donos.

Todavia, naquela manhã de ano novo algo diferente aconteceu. Passeando pela praia e observando toda aquela imundície resolvi recolher o lixo esparramado. Haja vista, que os recipientes para colocação dos mesmos encontravam-se distribuídos no local. Assim, iniciei a tarefa de limpeza daquele espaço. Bastou não mais do que 05 minutos, um pequeno grupo de pessoas espontaneamente começaram a me auxiliar. Daí, mais gente foi aderindo e em pouco tempo tínhamos limpado toda a praia.

Foi uma agradável surpresa ver uma atitude simples ser seguida por tanta gente. Imagino, que da mesma forma, pessoas sem educação devida são acompanhadas por outras, quando fazem ações prejudiciais a coletividade e a natureza, como jogar lixo no chão. Assim, incentivar com bons exemplos costumam dar bons resultados. Entretanto, trata-se de um pingo d’água no oceano. Não se pode esquecer que nove crianças morrem por minuto de FOME no mundo por falta de alimentos. Conforme a OMS, o LIXO de um dia do ocidente daria para saciar toda a carência alimentar do planeta por um ano. Todavia, as festas de final e início de ano continuam a ser regadas a álcool e excesso de comida. Um costume social hipócrita e pecaminoso, justamente em um período onde se comemora o nascimento do MENINO JESUS.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 10/01/2013
Reeditado em 11/01/2013
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