Visão monocromática

Finalmente chega a hora de voltar pra casa, me esquivo do aglomerado de vozes altas que se concentram na porta, e em um movimento rápido e leve, pulo três degraus. Sinto cair sobre meus ombros gotas geladas com o vento que bate forte e me fazem arrepiar. Logo lembro do guarda chuva que eu esqueci propositalmente em casa na fala cautelosa da minha mãe, sou obrigada a retornar. Observo um tanto dispersa o aspecto bruto, áspero e triste do porteiro, trocamos algumas palavras por educação e depois observamos juntos um arco íris monocromático coletivo que se formava, com as sombrinhas e tamanho família, um céu concreto úmido.

Por fim, a chuva cessou em uma fração de tempo, o que aliviou a todos e ao clima. Aproveito o momento e aceno em despedida para o porteiro, coloco minha mochila nas costas e prossigo com meus passos contínuos e cansados. Na tentativa de me apressar, acabo por me desequilibrar no chão escorregadio e carregado de fungos. Olho fugazmente para os lados, entrecorto caminhos e reduzo os passos, disputo espaço com meus objetos de estudo e pessoas desacreditadas e sem muita perspectiva no futuro. Essa realidade reflete na infância dos meninos de rua, que vejo cheirar cola para enganar a fome entre as arriscadas manobras para garantir uma carona na traseira dos ônibus que trafegam pela movimentada Av. Brasil, onde volta a chover lágrimas da sociedade, da minoria que se cala diante de uma forte tempestade.

Laísrosa
Enviado por Laísrosa em 10/01/2013
Reeditado em 15/08/2017
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