Seres peculiares
Os livros são seres extremamente complexos - e simples, ao mesmo tempo. Quando se entra em um deles, não importa qual, viaja-se para um mundo onde tudo pode existir e talvez nada pode acontecer na realidade: o mundo da imaginação.
Os livros são seres que ligam dois elementos infinitos: o poder das palavras e o raciocínio humano. Basta viajar numa primeira obra para se encantar pelos vocábulos e conquistar um novo mundo, onde se pode até mesmo passar a criar: o mundo da fantasia - que pode ser conquistado de outras formas, mas os livros são um bom atalho.
Para os maníacos por palavras, os livros são companheiros inestimáveis, parceiros para todas as horas e seres capazes de criar um universo paralelo ao que se vive. E, se a temática abordada for agradável ao leitor, é ainda mais certo que se apaixone por esse fantástico mundo onde se lê e se imagina.
Às vezes ocorre que o livro seja fútil, mas não se deve lastimar isso e nem mesmo subestimar a capacidade que ele tem de ampliar o raciocínio humano, mesmo com toda sua futilidade. Apenas se deve lê-lo com um filtro de impurezas, onde ficarão retidas todas as barbáries que o autor tenha grafado ali, de modo que apenas as boas lições sejam absorvidas. Afinal, mesmo sendo fútil, ainda se pode dizer que é um ser de valor inestimável, pelo simples fato de tentar trazer o esclarecimento e unir às palavras o raciocínio humano.
Ao homem, por desígnio do acaso, foi dada a proeza de passar suas ideias aos livros, criando-os. Por isso são tão peculiares: pelo fato de não serem perfeitos, mas poderem se tornar, nas mãos de um leitor pensante.
Ou seja, os livros – e, por conseguinte, seus autores - são seres incríveis, talvez até enviados de Hermes para cumprir a nobre missão de trazer o lirismo à vida dos homens, o que requer habilidade. Talvez mandados por alienígenas com o objetivo de envolver os indivíduos a ponto de torná-los completamente apaixonados pelos vocábulos. Talvez tenham sido criados por algum homem, com o objetivo de entorpecer ao outro e convencê-lo de acordo com seus interesses. Talvez sejam seres enviados por Deus, para dar um significado à vida humana, ou apenas tentar fazê-lo. Ou seja, apenas se sabe que os autores são seres distintos. E os livros, seres peculiares, dos quais se pode criar um ser igualmente peculiar.