"P R O C E L O S O x AMOR"
Evaldo da Veiga
Li essa palavra em uma revista e fui ao dicionário
saber o que significava: é relativa à tormenta,
tempestades, coisas assim que a gente não gosta,
mas quando acontece tem que segurar, não adiantar
chorar, espernear por muito tempo. “Levanta, sacode
a poeira e da volta por cima”, como leciona a velha canção popular.
Quanto menino, lembro bem, que ser Corno era uma mancha terrível,
era pior do que ir para o inferno. Até os meninos ficavam cabreiros,
fugia da hipótese como o diabo foge da cruz.
Eu já estava bem experiente, tinha oito anos de idade e preparado
pra tudo que a vida pudesse mandar de tinhoso.
Já tinha tido algumas namoradas e um grande amor
representado na minha linda Lairzinha.
Aliás, Lairzinha era muito além de linda,
era o único símbolo de amor que reunia todos
os jeitinhos e trejeitos femininos.
Mas dando corda a pipa, sem que eu sequer pudesse prevenir-me,
virei Corno, da noite pro dia.
Theresinha, minha namorada exclusiva, eu pensava,
estava namorando o Henry Wallace James, olha que barra pesada, concorrência injusta, vê-se até pelo nome. E ele era neto do Sr. Alarico, farmacêutico respeitado que salvava vidas, que curava mais
do que qualquer médico do Centro da Cidade, assim pensava o povo.
O Sr. Alarico, por reflexo, espargia importância ao Henry,
que ainda por cima, andava com suspensório combinando com a calça,
botinha e cabelo com Brilhantina “Glostora”.
Arrasado, sofri uma noite toda, excetuando as horas que dormi;
e, como não gosto de sofrimento além do tempo, fui esclarecer com a Theresinha, que confirmou tudo e ainda acrescentou:-
foi ótimo Evaldo, eu aceitar namorar o Henry. Ele tem o “Tesouro da Juventude”, todo dia leio um pedação, é bem legal.
Fica amigo dele e leia também, esse não é o teu sonho? E de fato era, meu maior sonho era ter o “Tesouro da Juventude”, mas eu era pobre,
sonhei várias vezes com essaa coleção de livros...
No dia seguinte lá estava eu ao lado da Theresinha na casa do Henry.
Botei logo o olho da instante, onde o “Tesouro” se projetava.
Por interessante o Henry gostou de me conhecer de perto,
achou legal ter um amigo que andava de pés descalços,
sempre sem camisa e calção de pano da Legião Brasileira de Assistência,
marca inconfundível.
E também porque eu era o primeiro amigo dele, que só brincava sozinho.
No Largo da Batalha só tinha três famílias ricas: o Sr. Alberto, dono da empresa que tinha quatro ônibus, o Sr. Camilo, dono da padaria
de porta de madeira com cupim, e o Sr.Alarico, o mais importante porque usava jalecobraanco, camisa social e gravata, e ainda por cima salvava vidas.
Mas estava sendo ótimo ser Corno, muito bom!
Theresinha nem quase conversou com o Henry,
e este, preferiu conversar comigo, talvez por eu ser bem pobre;
e na saída, Theresinha segurou minha mão
e fomos correndo brincar de soldado ladrão.
Herry deu Adeus do portão, um pouco triste,
a mãe não deixava ele ir brincar lá fora.
evaldodaveiga@yahoo.com.br
Evaldo da Veiga
Li essa palavra em uma revista e fui ao dicionário
saber o que significava: é relativa à tormenta,
tempestades, coisas assim que a gente não gosta,
mas quando acontece tem que segurar, não adiantar
chorar, espernear por muito tempo. “Levanta, sacode
a poeira e da volta por cima”, como leciona a velha canção popular.
Quanto menino, lembro bem, que ser Corno era uma mancha terrível,
era pior do que ir para o inferno. Até os meninos ficavam cabreiros,
fugia da hipótese como o diabo foge da cruz.
Eu já estava bem experiente, tinha oito anos de idade e preparado
pra tudo que a vida pudesse mandar de tinhoso.
Já tinha tido algumas namoradas e um grande amor
representado na minha linda Lairzinha.
Aliás, Lairzinha era muito além de linda,
era o único símbolo de amor que reunia todos
os jeitinhos e trejeitos femininos.
Mas dando corda a pipa, sem que eu sequer pudesse prevenir-me,
virei Corno, da noite pro dia.
Theresinha, minha namorada exclusiva, eu pensava,
estava namorando o Henry Wallace James, olha que barra pesada, concorrência injusta, vê-se até pelo nome. E ele era neto do Sr. Alarico, farmacêutico respeitado que salvava vidas, que curava mais
do que qualquer médico do Centro da Cidade, assim pensava o povo.
O Sr. Alarico, por reflexo, espargia importância ao Henry,
que ainda por cima, andava com suspensório combinando com a calça,
botinha e cabelo com Brilhantina “Glostora”.
Arrasado, sofri uma noite toda, excetuando as horas que dormi;
e, como não gosto de sofrimento além do tempo, fui esclarecer com a Theresinha, que confirmou tudo e ainda acrescentou:-
foi ótimo Evaldo, eu aceitar namorar o Henry. Ele tem o “Tesouro da Juventude”, todo dia leio um pedação, é bem legal.
Fica amigo dele e leia também, esse não é o teu sonho? E de fato era, meu maior sonho era ter o “Tesouro da Juventude”, mas eu era pobre,
sonhei várias vezes com essaa coleção de livros...
No dia seguinte lá estava eu ao lado da Theresinha na casa do Henry.
Botei logo o olho da instante, onde o “Tesouro” se projetava.
Por interessante o Henry gostou de me conhecer de perto,
achou legal ter um amigo que andava de pés descalços,
sempre sem camisa e calção de pano da Legião Brasileira de Assistência,
marca inconfundível.
E também porque eu era o primeiro amigo dele, que só brincava sozinho.
No Largo da Batalha só tinha três famílias ricas: o Sr. Alberto, dono da empresa que tinha quatro ônibus, o Sr. Camilo, dono da padaria
de porta de madeira com cupim, e o Sr.Alarico, o mais importante porque usava jalecobraanco, camisa social e gravata, e ainda por cima salvava vidas.
Mas estava sendo ótimo ser Corno, muito bom!
Theresinha nem quase conversou com o Henry,
e este, preferiu conversar comigo, talvez por eu ser bem pobre;
e na saída, Theresinha segurou minha mão
e fomos correndo brincar de soldado ladrão.
Herry deu Adeus do portão, um pouco triste,
a mãe não deixava ele ir brincar lá fora.
evaldodaveiga@yahoo.com.br