Eu garimpeiro

Eu sempre quis ser garimpeiro. Não sei exatamente o porquê desse desejo, sei apenas que ele sempre residiu em mim. Quando criança, eu morava em uma fazenda, era um lugar isolado, na chapada noroestana, lá existia muitas montanhas e entre elas córregos, grotas e nelas muito cascalho, muitos cristais de variadas formas e cores...eu me deixava ficar por horas catando-as, selecionando os mais belos. Guardava-os em vidros de xarope. Meu pai contava muitas histórias, dizia que para se pegar um diamante tinha que desencantá-lo, molhá-lo com saliva ou sangue. Um morador antigo, posseiro da terra, contou-me que certa vez apareceu por ali uns baianos que pediu a ele permissão para garimparem no Ribeirão dos Confins, disse-me que eles acharam rapidamente, várias esmeraldas e que, certo dia, sentiu 'falta' dos baianos e foi até o acampamento deles, chegando lá, encontrou o acampamento abandonado, o fogo do fogão a lenha estava apagado mas tinha uma panela com feijão azedo, um bule com café, não viu nem sinal deles, eles haviam sumido dali levando apenas as roupas. Ele me disse que acreditava que eles haviam 'bamburrado', achado um diamante muito bom e teriam sumido no mundo para vendê-lo. Meu pai vendeu aquela fazenda, nos mudamos para a cidade e, já na adolescência, meu finado avô me contou que tinha um irmão garimpeiro, que tinha ficado em Patos de Minas quando a família vendeu tudo lá e veio morar no sertão urucuiano. Meu avô, falou-me desse tio avô, Antero, homem de personalidade ímpar, beberão, chegado a farra, garimpava no rio Paraopebas e quando pegava muitos diamantes descia para Patos de Minas, fechava uma zona e ficava um mês gastando o dinheiro apurado na lavra. Quando acabava o dinheiro voltava para o garimpo. Eu creio que, apesar de não tê-lo conhecido, pode ser dele esse meu desejo de garimpar. Não tenho pretensão de fazer fortuna, o que me encanta é a ideia da procura de uma pedra preciosa, sozinho no leito de um córrego, estudar o cascalho, selecionar as pedras mais bonitas e quem sabe um belo diamante, ou uma esmeralda verde, graúda... viver contando com a sorte...Enquanto não crio coragem, sigo garimpando palavras nessa lavra abstrata, nos ermos da alma...

Geraldo Rodrix
Enviado por Geraldo Rodrix em 24/12/2012
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