Inventário
Inventário
Com você se foi um pedaço de mim, o melhor pedaço porque não dizer: A capacidade de deixar fluir meus sentimentos e emoções como amar, confiar, sorrir...
Comigo ficou algo de você: os filhos queridos para os quais eu vivo; um nó na garganta que sufoca a alma; um rio de lágrimas que encharca o travesseiro; a saudade imensa de um amor antigo que a traição destroçou e a morte destruiu, restando no lugar desse grande amor, um vazio enorme que me serve de abrigo e me tira o chão.
E, hoje o que sou devo a você: um balde de gelo, alguém que não crê. Sem rumo, sem norte, sou pequenos pedaços tendo que ser forte.
Passam-se os dias e, entre eles as noites tristes e vazias, servindo-me de açoite.
E, se alguém me assedia, com palavras ou gestos, tomo à defensiva, pois já machucada vejo em cada ato algo desonesto.
Tenho tanto amor, aqui dentro do peito, que trancado a chaves não consigo abrir.
Quem dera pudesse sair deste caos, abrir-me ao vento e de novo amar. Dar e receber inúmeros carinhos, pois estou carente e se sou indiferente é por não conseguir em ninguém mais acreditar.
Outubro de 1993.