A estátua viva e o menino
Sempre me emociono e agradeço a Deus por me fazer presenciar cenas do cotidiano tão sensíveis.Acho até que ando pelas ruas com o olhar atento ou com o coração desperto, prontos para capturar um flash capaz de redimir a humanidade.E sempre consigo flagrar uma cena comovente.Se o ditado popular “quem procura,acha” for verdadeiro, vou continuar procurando esses ternos momentos.
A cena a qual me refiro aqui, acontecu na manhã de hoje. Estava eu em meio a uma multidão no centro de minha cidade, nas últimas compras de Natal, quando o meu olhar foi surpreendido por um menininho exultante de alegria.Devia ter, se muito ,seis aninhos.Estava acompanhado dos pais que, pelo jeitinho que lidava com ele, pela paciência e afeto, pareciam ser do interior e se encontravam aqui por qualquer motivo ou, bem provável, à procura de presentes com preço mais em conta.Fato é que os pulos e gritos e risos da criança eram tantos que diminuí os meus passos para acompanhar e tentar entender a cena.
O que fez a criança exultar de alegria foi uma estátua viva que , ao vê-lo passar, fez um pssssiuuuuuuu bem estridente para chamar-lhe a atenção.O menininho voltou-se para a estátua e, ao perceber que a mesma lhe fazia uma declaração de amor gestual, do tipo: beijos soprados, mãos postas em forma de coração e reverências delicadas em sua direção, pegou a mãe pelas mãos e se postou diante da estátua ( que era um homem bem magro,todo coberto de tinta prateada) e começou a rir e pular de alegria.A satisfação do garoto contagiou a mãe e o pai também, que fez meia volta do caminho que seguia e se postou junto à família numa atitude contemplativa.
De repente, a mãe tirou da bolsa umas moedas e entregou ao filho, mostrando a caixinha que estava no chão aos pés da estátua. O menino, mais que depressa ,agachou e colocou o dinheiro no local indicado. Quando se levantou, o homem deu um assobio mais forte, estendeu a mão para o menino que prontamente estendeu sua mãozinha.A estátua então deu um beijo bem estalado na mão do garoto ,que deu uma estridente e deliciosa risada.
Depois de presenciar tudo isso, não resisti.Procurei rapidamente na minha bolsa uma nota, aproximei-me da estátua e coloquei minha contribuição na caixinha.Quando me levantei, recebi o mesmo carinho.O homem estendeu-me sua mão, pegou delicadamente a minha e depositou nela um beijinho, mais contido(sem estalo),infelizmente.
Enquanto me afastava,ainda observei por alguns segundos o garotinho com sua família.Ele se aproximou da estátua, tocou-a levemente e,depois, estendeu a mão direita à mãe e a esquerda ao pai. Para completar a manhã festiva, foi erguido de forma brincalhona como se estivesse numa gangorra.E a família se foi,seguindo seu destino, numa alegria tão pura e verdadeira.
Fiz questão de contar essa história hoje mesmo, assim que cheguei em casa.Não queria correr o risco de vê-la apagada na memória.Além do mais, para aliviar o estresse e a correria do final de ano, acho que ela ilustra de forma delicada e terna o espírito natalino. Essa família, a meu ver, lembra bem aquela de mais de dois mil anos atrás, onde Pai, Mãe e Filho , numa pobreza material infinita, traziam consigo a riqueza maior do mundo. Na alegria do garotinho que vi hoje, no carinho e cumplicidade dos pais,
pude vislumbrar um raio da verdadeira Luz que pode redimir a humanidade, pois enquanto alguém fizer uma criança sorrir, nem tudo estará perdido.
Que todos possam sentir dentro de si um pouquinho da alegria que pude compartilhar com a estátua viva e o menino.
(BH,19 de dezembro de 2012)