Reflexões de um escritor
O escritor é uma criatura esquisita. Quando menos espera, depara com histórias que poderiam muito bem ficar caladas lá no seu canto. Mas não. A vida, marota como ela só, vai articulando os caminhos até que, vai entender, faz surgir do nada algo que mexe com nossos valores, com nossos conceitos, com tudo. Hoje deparei com uma dessas armadilhas que a vida prepara com maestria única. Uma tragédia familiar com todos os ingredientes para ficar só na tragédia. Mas não. A dor foi tamanha que deixou de ser apenas dor. Deixou de apenas fazer sangrar, coisa que a dor faz melhor que ninguém. A perda dos frutos mais queridos poderia ter dilacerado quaisquer vestígios de recobrar os sentidos. Poderia ter condenado à cegueira eterna, levado aquele homem para a masmorra dos morto-vivos e que por lá ficasse enquanto a eternidade cumprisse seu trajeto. Mas a nossa pequeneza humana quando menos se espera mostra quão ínfima é a sua pretensão de entender o que dizem os ventos. Somos parte de uma trama cujo maestro entende que algumas melodias serão tocadas até o fim, enquanto outras cessarão nos primeiros acordes. Alguns teimam em querer desvendar o que os véus escondem, tentativas que darão em nada. Haverá um dia em que todos nós nos reencontraremos, o que se passa por aqui é apenas o preâmbulo do que está por vir. As marcas feitas pelo chicote da dor ainda berram fundo, fazem o nosso peito agonizar. Mas quando o fôlego teimar em trancar seu suor, haverá o aconchego da certeza de que, um dia, os entes queridos se irmanarão na mesma canção e, nela, juntos, retomaremos a caminhada. Até todo o sempre.
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