O vermelho de um dia de trabalho (Parte I)
A injuria de quem não fez
Era domingo pela manhã, meu pai me pedira que trabalhasse com ele naquele dia. Fui ao trabalho. Em meio a Frangos, carnes e frios, estava eu. Como era corriqueiro na feira livre onde estava a trabalhar, houve três confusões naquela manhã. Em uma delas, um homem com deficiência mental (adquirida após anos de usos de drogas, pelo que me falaram), agrediu uma senhora, já de idade a pobre, e ainda tinha problemas na perna direita, que a fazia mancar. Ele vinha andando no auge de sua loucura. Atacado. Ela estava em seu caminho. Ele a empurrou contra o chão e a chutou. Eu fiquei imóvel após o acontecimento, que por um acaso foi em frente de onde eu estava a trabalhar. A mulher pedira ajuda, mas, ninguém, nem eu, foi socorrê-la. Talvez por medo, ou simplesmente por não saber oque fazer naquele momento, afinal, qual chance eu ou qualquer covarde que lá estava teria em lutar com um louco, por alguém que não conhecíamos? A senhora foi embora do local. Depois de um tempo me senti mal por não tê-la ajudado, mas, aos poucos esse sentimento de remorso passou, e voltei ao normal mesmo pensando na cena que acabara de ver. O “louco” que agredira a senhora deitou-se enfrente da onde eu estava. Ficou lá por um bom tempo. Meu pai chegou, e disse a ele oque tinha acontecido, ele, já acostumado com isso disse-me: “de novo! Toda vez que ele acorda ‘atacado’, agride as pessoas. Ainda pouco, ele quebrou uma barraca que vendia roupas.” Me senti aliviado por estar dentro de uma estrutura segura.
Estava atendendo uma cliente. Pelo que me lembro ela queria 2kg de peitos de frango, estava pesando-o quando de repente me encontro no meio de uma cena acarreada pelo ódio e injustiça. A senhora que foi agredida, voltara ao local com policiais. Seu filho que tinha cabelos enrolados, olhos vermelhos de ódio e camisa de algum time, acho que do Corinthians,(acredito que estava assistindo o tão esperado jogo de sua alienação), aparentava ter em media de 20 a 25 anos. Chegaram aos prantos. “Animaram-se” ao ver o agressor deitado, tranquilo, creio que até estava dormindo na calçada em frente ao ponto comercial de meu pai. Os policias o acordaram calmamente, o mandaram virar-se, porem, o filho de olhos vermelhos, não conformado com oque acontecera, chutou-o varias vezes, repetindo: “minha mãe esta doente, quase morrendo! eu não vou aceitar isso! Não aceito! você é louco? Você é louco!” . Sim, realmente ele era louco, mas, o filho de olhos vermelhos não quis escutar. Não o jugo. Não sei como reagiria em uma situação desse tipo, talvez não igual a ele, Talvez. Em seguida chegou a filha, diferente do outro, era branca (quase amarela), vestia saia estilo "largadona", cabelos enrolados tingidos de loiro escuro, aparentava ter de 19 a 22 anos. Olhos castanhos e pele, que era amarela, agora estavam ambos vermelhos. Estava com uma faca em mãos. Veio tão bruscamente que nem os policiais conseguiram segura-la de primeira. Não sei se conseguiu atingir o objetivo que o ódio a fizera traçar, pois, não vi sangue escorrer. Os policiais levaram todos para delegacia. No calor de seus piores sentimentos, a senhora com dor e nervosa com a cena que seus filhos protagonizavam olhou-me e exclamou: “ você não me ajudou! Ninguém!” seu filho me olhou com um olhar de auto piedade, que me fez engolir a seco a saliva que estava em minha boca. Apenas consegui dizer “estava ocupado....” Com voz tão baixa e tremula que creio que ninguém me escutou, pois, estava atrás do balcão, levemente distante dos mesmos.
A freguesa foi embora sem levar seus 2kg de peito de frango, e eu fiquei lá, a fingir que não me importava com nada que tinha acontecido. E o “pior”, é que de certa forma não me importava mesmo. Afinal, não podia fazer muita coisa... Na verdade depois de muito refletir vi que eu podia, mas, porque faria isso? Não a conhecia, e não valeria a pena apanhar por um estranho. “Se fosse em outra situação .... se fosse em outra situação?” me questionei. Seria eu um covarde por não tê-la ajudado? Ou simplesmente meu egoísmo que propositalmente aumentei com o tempo , em um periodo confuso, estaria mostrando sua face? Ou eu seria apenas mais um que não liga para nada, perdendo sua humanidade aos poucos como um robô programado para acostumar-se com os barbáries do mundo?
Enfim, um medo ecoou em meu interior, pois, pensava que ainda não seria tão alienado assim. E vi que as coisas estavam piores do que pensava e que meu intelecto estaria mais longe de seu potencial, pois, não se pode medi-lo apenas com teorias. E quando pensei que já estava cheio de duvidas, sem mais poder caber em meus pensamentos, o dia de trabalho contemplou-me com mais e mais e mais..
A injuria de quem não fez
Era domingo pela manhã, meu pai me pedira que trabalhasse com ele naquele dia. Fui ao trabalho. Em meio a Frangos, carnes e frios, estava eu. Como era corriqueiro na feira livre onde estava a trabalhar, houve três confusões naquela manhã. Em uma delas, um homem com deficiência mental (adquirida após anos de usos de drogas, pelo que me falaram), agrediu uma senhora, já de idade a pobre, e ainda tinha problemas na perna direita, que a fazia mancar. Ele vinha andando no auge de sua loucura. Atacado. Ela estava em seu caminho. Ele a empurrou contra o chão e a chutou. Eu fiquei imóvel após o acontecimento, que por um acaso foi em frente de onde eu estava a trabalhar. A mulher pedira ajuda, mas, ninguém, nem eu, foi socorrê-la. Talvez por medo, ou simplesmente por não saber oque fazer naquele momento, afinal, qual chance eu ou qualquer covarde que lá estava teria em lutar com um louco, por alguém que não conhecíamos? A senhora foi embora do local. Depois de um tempo me senti mal por não tê-la ajudado, mas, aos poucos esse sentimento de remorso passou, e voltei ao normal mesmo pensando na cena que acabara de ver. O “louco” que agredira a senhora deitou-se enfrente da onde eu estava. Ficou lá por um bom tempo. Meu pai chegou, e disse a ele oque tinha acontecido, ele, já acostumado com isso disse-me: “de novo! Toda vez que ele acorda ‘atacado’, agride as pessoas. Ainda pouco, ele quebrou uma barraca que vendia roupas.” Me senti aliviado por estar dentro de uma estrutura segura.
Estava atendendo uma cliente. Pelo que me lembro ela queria 2kg de peitos de frango, estava pesando-o quando de repente me encontro no meio de uma cena acarreada pelo ódio e injustiça. A senhora que foi agredida, voltara ao local com policiais. Seu filho que tinha cabelos enrolados, olhos vermelhos de ódio e camisa de algum time, acho que do Corinthians,(acredito que estava assistindo o tão esperado jogo de sua alienação), aparentava ter em media de 20 a 25 anos. Chegaram aos prantos. “Animaram-se” ao ver o agressor deitado, tranquilo, creio que até estava dormindo na calçada em frente ao ponto comercial de meu pai. Os policias o acordaram calmamente, o mandaram virar-se, porem, o filho de olhos vermelhos, não conformado com oque acontecera, chutou-o varias vezes, repetindo: “minha mãe esta doente, quase morrendo! eu não vou aceitar isso! Não aceito! você é louco? Você é louco!” . Sim, realmente ele era louco, mas, o filho de olhos vermelhos não quis escutar. Não o jugo. Não sei como reagiria em uma situação desse tipo, talvez não igual a ele, Talvez. Em seguida chegou a filha, diferente do outro, era branca (quase amarela), vestia saia estilo "largadona", cabelos enrolados tingidos de loiro escuro, aparentava ter de 19 a 22 anos. Olhos castanhos e pele, que era amarela, agora estavam ambos vermelhos. Estava com uma faca em mãos. Veio tão bruscamente que nem os policiais conseguiram segura-la de primeira. Não sei se conseguiu atingir o objetivo que o ódio a fizera traçar, pois, não vi sangue escorrer. Os policiais levaram todos para delegacia. No calor de seus piores sentimentos, a senhora com dor e nervosa com a cena que seus filhos protagonizavam olhou-me e exclamou: “ você não me ajudou! Ninguém!” seu filho me olhou com um olhar de auto piedade, que me fez engolir a seco a saliva que estava em minha boca. Apenas consegui dizer “estava ocupado....” Com voz tão baixa e tremula que creio que ninguém me escutou, pois, estava atrás do balcão, levemente distante dos mesmos.
A freguesa foi embora sem levar seus 2kg de peito de frango, e eu fiquei lá, a fingir que não me importava com nada que tinha acontecido. E o “pior”, é que de certa forma não me importava mesmo. Afinal, não podia fazer muita coisa... Na verdade depois de muito refletir vi que eu podia, mas, porque faria isso? Não a conhecia, e não valeria a pena apanhar por um estranho. “Se fosse em outra situação .... se fosse em outra situação?” me questionei. Seria eu um covarde por não tê-la ajudado? Ou simplesmente meu egoísmo que propositalmente aumentei com o tempo , em um periodo confuso, estaria mostrando sua face? Ou eu seria apenas mais um que não liga para nada, perdendo sua humanidade aos poucos como um robô programado para acostumar-se com os barbáries do mundo?
Enfim, um medo ecoou em meu interior, pois, pensava que ainda não seria tão alienado assim. E vi que as coisas estavam piores do que pensava e que meu intelecto estaria mais longe de seu potencial, pois, não se pode medi-lo apenas com teorias. E quando pensei que já estava cheio de duvidas, sem mais poder caber em meus pensamentos, o dia de trabalho contemplou-me com mais e mais e mais..