Causos de Caserna
Causos da Caserna
Theo Padilha
A caserna me trás tantas lembranças, o velho quartel da Praça Rui Barbosa de Curitiba, desde o dia que ali cheguei em 1966.
Fui de trem, como um “buque de guierra”, um trem demorado e cheio de futuros soldados. Em cada estação que o trem parava, coitado do dono do barzinho que esperava vender alguma coisa para os passageiros do trem. Eles desciam do trem como loucos e comiam tudo, mas não pagavam nada. Quando embarquei às 4 horas da manhã em Joaquim Távora, junto com um amigo, o Zé Rosa nós fomos recebidos por uma ensurdecedora algazarra. O meu almoço foi levado na mão. Fora da mala. Minha mãe havia assado um frango, que infelizmente ela guardou num pacote de açúcar de 5 quilos. E a marca no pacote, bem grande, era Açúcar PARATODOS. Ouvi um grito em coro naquele vagão:
− Olha aqui gente, tem para todos!
Abracei o pacote e fiquei esperando a reação, mas não houve. No final fizemos muitos amigos. Durante a viagem eram servidos sanduíches de mortadela com chá. Logo apelidaram o sanduíche de “problema” e o chá de “solução”.
Era o mês de maio. E chegamos a Curitiba, morrendo de frio. E fomos direto para a Praça Rui Barbosa. Eu já tinha ido à capital com o meu pai, mas estranhei muito. A saudade de minha casa marcava muito. No quartel aprontamos de tudo. Uma das coisas que marcou muito foi o Cabo Eiglimayer. Descendente de alemães, baixinho, era o maior “Caxias” que conheci. Ninguém gostava dele. Nem recrutas nem veteranos. Ele mesmo no pátio contava suas gabolices. Disse que certa vez um soldado, ficou com tanta raiva dele que o ameaçou de morte. Ele contou:
− O soldado chegou a apontar a arma em minha direção e disse que eu ia morrer! – o cabo se levanta explicando e se coloca na posição de sentido.
− A primeira reação que tive foi tomar essa posição de sentido. Porque o soldado deve morrer na posição de sentido! – continuava a explicação, mostrando aquela ponte feia nos dentes. Ele não podia ver soldado em paz. Sempre dando ordens, pedindo a continência, quando passava. Mais tarde quando trabalhei em Guaraqueçaba como professor, fiquei conhecendo o professor Frederico, que era cunhado do Cabo. Frederico tinha sido soldado também e conta que perseguiu Lamarca na Serra do Mar, numa perigosa missão. Saudades do QG, de toda minha turma. Há pouco recebi um recado do querido Cabo Donha.
Joaquim Távora, 14 de dezembro de 2012. All the rights by Theo Padilha-Comunications.