Vá à luta! - Todos podem
Um sábado, dezembro de 2007, 18h3, findo o jantar – que ainda tenho dessas manias – passava ao banheiro, ouço do ator que, em Sete Pecados, contracenava com Lázaro Ramos, a frase “não consigo lembrar a última vez em que senti orgulho de mim mesmo”. E, por um desses milagres da mágica do pensamento, fui levado a Cleviégas, que creio, alguém à altura de sentir dó, gargalhar ou, pelo inusitado da declaração, emudecer pela eloqüência da força do silêncio. Por que, ele, o Cleviégas, o Clemente e não outro? Muitos há, naturalmente, para lembrança e referência, mas, falta de opção não foi, resolvi escolhê-lo. Poderá até ficar como ad hoc, será sobre mim e ele que falarei, de início.
Pois bem, irônica ou paradoxalmente, não me acorre, ao menos agora, após a fala da novela, a lembrança de nenhum instante de esmorecimento em algumas situações que a vida sempre e sempre nos prega em seu curso. Que eu não esteja sendo levado pela surpresa da declaração, e o emotivo dê maior ênfase a esta reação! Embora desconheça o contexto em que se situaram as palavras do personagem, não deixam de ser a confissão de alguém, independentemente do papel que represente.
Comecei neste mundo encarando os problemas, inevitavelmente componentes e construtores da vida. A cada esquina, sorrateiramente, um perigo a minha espera. A cada passo, a visão de um dragão, vomitando fogo, bocas abertas, como se eu fosse sua próxima ceia. Na busca pela desejada ascensão, a que almejamos todos, um empecilho à frente de meus propósitos. E fui vencendo-os um a um. Jamais encontrei mesa posta, cama quentinha, tapete vermelho. Sempre paguei um preço por tudo o que consegui na vida. Eu tinha sonhos, e como José Luiz Borges, o poeta argentino, cego, confiava neles: meu escudo. Ele que disse: “no mundo, não há nada tão consistente quanto a matéria de que são feitos os sonhos”. Depois me vem Humberto de Campos, entendendo que “quando um sonho é grande demais, é preferível morrer com ele a deixar que ele morra sozinho”. Agora, leio de Oscar Niemeyer que “a gente deve sonhar senão as coisas não acontecem”. Era de meu dever acreditar neles.
A menção ao colega, a lembrança de Clemente só ilustra trajetória como a minha. Numa linguagem conhecida, “comemos o pão que o diabo amassou”. Certo que mãos piedosas nos ajudaram. Ninguém faz nada sozinho, e esse socorro atenuou nossa via-crúcis, aliviou-nos os ombros, foram os cireneus de nossas vidas. Ajudados a carregar a cruz, tínhamos, no entanto, de chegar ao topo por nossos meios. E os momentos de transe, as dificuldades, os nãos recebidos na vida foram nossa alavanca ao pódio a que pretendíamos ascender. Digo, com uma convicção que pode espantar, que um não é sempre um novo alento. Preparem-se, os candidatos de plantão, muito bem para me dizer um não. Eu posso me nutrir com essa negativa. Como o Atlas que, tocando a terra, levantava-se mais forte, é esse em mim o efeito de um não: eu me alimento disso e recrudesço com maior ânimo. Daí, a conclusão de que “não consigo lembrar a última vez em que senti esmorecimento em mim mesmo”. E não fomos nós, exclusivamente, os ungidos dessa história. Outros tantos, Marias, Josés, Anas, Raimundos, Joaquins, graças a Deus dizemos hoje, viveram essa odisséia, Ulisses amarrado ao mastro de seu navio, em seu retorno a Ítaca. Perseguíamos nossos propósitos e, sobretudo, sabíamos aonde queríamos chegar. Deus não nos colocaria aqui para nos dá, como prêmio, o fracasso. Sabíamos de um lugar ao sol. A sombra existe, sim, mas para refrigério nos instantes de repouso. O desânimo, a reclamação, o choramingado a nada nos levará, senão à piedade, ao dó, à pena, que diminui o ser humano e o amesquinha e ninguém é merecedor disso. Se, nos devaneios que vivemos, alçamos a um pedestal de glória, foi construído com as pedras que nos foram atiradas. E chego à confortadora conclusão de que sempre tive orgulho de mim mesmo.
Gravada no topo dos Alpes suíços, a inscrição “Os covardes nunca tentaram; os fracos desistiram no meio do caminho; só os fortes atingiram este lugar”, define o preço do triunfo, mostra do que podemos ser capazes e nos faz ter orgulho de nós mesmos. Abomino o desânimo, incomoda-me o medo, detesto os previamente fracassados. Aposto no desafio, “caso” no pano verde a vontade férrea, dou loas aos atrevidos, aos destemidos, aos intimoratos. A tudo isso, no entanto, só responde quem foi provado na adversidade, possui a têmpera dos que não se acovardam, dos que não recuam, corre na maratona da vida. Meninos, eu vi e vivi!
Um sábado, dezembro de 2007, 18h3, findo o jantar – que ainda tenho dessas manias – passava ao banheiro, ouço do ator que, em Sete Pecados, contracenava com Lázaro Ramos, a frase “não consigo lembrar a última vez em que senti orgulho de mim mesmo”. E, por um desses milagres da mágica do pensamento, fui levado a Cleviégas, que creio, alguém à altura de sentir dó, gargalhar ou, pelo inusitado da declaração, emudecer pela eloqüência da força do silêncio. Por que, ele, o Cleviégas, o Clemente e não outro? Muitos há, naturalmente, para lembrança e referência, mas, falta de opção não foi, resolvi escolhê-lo. Poderá até ficar como ad hoc, será sobre mim e ele que falarei, de início.
Pois bem, irônica ou paradoxalmente, não me acorre, ao menos agora, após a fala da novela, a lembrança de nenhum instante de esmorecimento em algumas situações que a vida sempre e sempre nos prega em seu curso. Que eu não esteja sendo levado pela surpresa da declaração, e o emotivo dê maior ênfase a esta reação! Embora desconheça o contexto em que se situaram as palavras do personagem, não deixam de ser a confissão de alguém, independentemente do papel que represente.
Comecei neste mundo encarando os problemas, inevitavelmente componentes e construtores da vida. A cada esquina, sorrateiramente, um perigo a minha espera. A cada passo, a visão de um dragão, vomitando fogo, bocas abertas, como se eu fosse sua próxima ceia. Na busca pela desejada ascensão, a que almejamos todos, um empecilho à frente de meus propósitos. E fui vencendo-os um a um. Jamais encontrei mesa posta, cama quentinha, tapete vermelho. Sempre paguei um preço por tudo o que consegui na vida. Eu tinha sonhos, e como José Luiz Borges, o poeta argentino, cego, confiava neles: meu escudo. Ele que disse: “no mundo, não há nada tão consistente quanto a matéria de que são feitos os sonhos”. Depois me vem Humberto de Campos, entendendo que “quando um sonho é grande demais, é preferível morrer com ele a deixar que ele morra sozinho”. Agora, leio de Oscar Niemeyer que “a gente deve sonhar senão as coisas não acontecem”. Era de meu dever acreditar neles.
A menção ao colega, a lembrança de Clemente só ilustra trajetória como a minha. Numa linguagem conhecida, “comemos o pão que o diabo amassou”. Certo que mãos piedosas nos ajudaram. Ninguém faz nada sozinho, e esse socorro atenuou nossa via-crúcis, aliviou-nos os ombros, foram os cireneus de nossas vidas. Ajudados a carregar a cruz, tínhamos, no entanto, de chegar ao topo por nossos meios. E os momentos de transe, as dificuldades, os nãos recebidos na vida foram nossa alavanca ao pódio a que pretendíamos ascender. Digo, com uma convicção que pode espantar, que um não é sempre um novo alento. Preparem-se, os candidatos de plantão, muito bem para me dizer um não. Eu posso me nutrir com essa negativa. Como o Atlas que, tocando a terra, levantava-se mais forte, é esse em mim o efeito de um não: eu me alimento disso e recrudesço com maior ânimo. Daí, a conclusão de que “não consigo lembrar a última vez em que senti esmorecimento em mim mesmo”. E não fomos nós, exclusivamente, os ungidos dessa história. Outros tantos, Marias, Josés, Anas, Raimundos, Joaquins, graças a Deus dizemos hoje, viveram essa odisséia, Ulisses amarrado ao mastro de seu navio, em seu retorno a Ítaca. Perseguíamos nossos propósitos e, sobretudo, sabíamos aonde queríamos chegar. Deus não nos colocaria aqui para nos dá, como prêmio, o fracasso. Sabíamos de um lugar ao sol. A sombra existe, sim, mas para refrigério nos instantes de repouso. O desânimo, a reclamação, o choramingado a nada nos levará, senão à piedade, ao dó, à pena, que diminui o ser humano e o amesquinha e ninguém é merecedor disso. Se, nos devaneios que vivemos, alçamos a um pedestal de glória, foi construído com as pedras que nos foram atiradas. E chego à confortadora conclusão de que sempre tive orgulho de mim mesmo.
Gravada no topo dos Alpes suíços, a inscrição “Os covardes nunca tentaram; os fracos desistiram no meio do caminho; só os fortes atingiram este lugar”, define o preço do triunfo, mostra do que podemos ser capazes e nos faz ter orgulho de nós mesmos. Abomino o desânimo, incomoda-me o medo, detesto os previamente fracassados. Aposto no desafio, “caso” no pano verde a vontade férrea, dou loas aos atrevidos, aos destemidos, aos intimoratos. A tudo isso, no entanto, só responde quem foi provado na adversidade, possui a têmpera dos que não se acovardam, dos que não recuam, corre na maratona da vida. Meninos, eu vi e vivi!