urubu de gente é carro de funerária

Urubu de gente é carro de funerária. Não tem jeito, quando ele passa é porque algum de nós passou para outra. E esta passagem não escapa aos nossos olhos e, digamos, bicadas. Cada um de nós tiraremos uma lasquinha do falecido. Para os sarcásticos, mato pela raiz será comido. Já para os cômicos, morrer é botar o bloco na rua, vestir o paletó de madeira e por aí vai. Morrer também é a arte de se tornar bom. E no campo da bondade têm também um “mas”, “porém”...

Morrer, enfim, é se expor pela última vez. Para os, digamos, defuntos famosos ainda vêm as homenagens póstumas. Estes, coitados, jamais cairão no esquecimento, pelo menos até os cem, cento e cinquenta anos seguintes.

Carro de funerária é o urubu rei da gente. Depois que ele passa é aquela revoada para os portões, ruas, telefones... os vizinhos apinham-se à porta e janelas. Os mais chegados entram com pêsames e préstimos. A revoada vai se formando.

Mas ainda tem a última palavra, o último chamado. Deste ninguém escapa de saber e os que já sabiam de ouvir contar ganharão a certeza. Estamos falando daquelas três palavrinhas que se repetirão. Elas antecedem o nome de quem se foi. Então vamos logo para as três palavras mágicas. Mágicas, pois deixam panelas no ar, fecham torneiras, paralisam vassouras e conversas até de futebol e vida alheia. As três palavras mágicas são: Atenção! Atenção! Atenção! E, logo vem, a nota de falecimento dada pela Casa Levi. Desta notícia ninguém escapa: desligados, surdos ou meio surdos. Talvez ela chegue até primeiro que o defunto lá no céu ou ...Pois há quem diga que o que se foi ainda fica um pouquinho entre nós querendo arrumar, em vão, as coisas.

Enfim, morte em cidade pequena interioriza sentimentos, a cidade vira também um pouco da família do que se foi, traz compaixão.

adrianood
Enviado por adrianood em 09/12/2012
Reeditado em 10/12/2012
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