O morto mais bonito que já vi
(Para Lazara Papandrea
Minha amiga Lazara Papandrea, amiga do RL e do Face e amiga pessoal de meus amigos Lúcia/José Reinaldo, escreveu um texto que me deixou reflexiva. Conta ela que ouviu a conversa de duas mulheres na calçada de uma Igreja, enquanto fingia amarrar os cadarços dos sapatos(Certamente para ouvir melhor, sem causar constrangimento). As mulheres comentavam as feições de um morto, muito bonito e sorridente e concluíram que, para estar tão feliz ele só poderia estar vendo Deus. Mas aí alguém se intrometeu na conversa: o Pastor da Igreja, dizendo que elas estavam blasfemando porque para chegar até a porta da morada de Deus ele levaria no mínimo sete dias e mais sete para ser recebido por Ele.
Não vou aqui falar sobre o que Lazara disse a respeito, vamos esperar que ela mesma poste o texto no RL para que todos leiam da forma exata como ela contou, uma forma muito gostosa por sinal. Afinal Lazara é uma das melhores escritoras do Recanto. É poeta e seus poemas são primorosos. Lazara mora em Juiz de Fora e fico embasbacada com a qualidade e a quantidade de bons escritores que essa cidade tem aqui no Recanto. Vou falar, escrevendo, sobre duas coisas – a impertinência desse Pastor de meia tigela e sobre o morto mais bonito que eu já vi. E eu que nem tinha pensado na razão de sua beleza! Agora sei, graças a essas duas mulheres conversando na calçada de uma Igreja em Juiz de Fora e a minha amiga Lazara que ouviu por mim: meu irmão Ronaldo estava vendo Deus.
Sou uma mulher apaziguada. Mesmo me sentindo assim, o que significa que hoje aceito coisas que não aceitava antes, não perdi minha capacidade de indignação. Ouvindo eu diretamente essa conversa, sei que não resistiria e me intrometeria. Certamente soltando os cachorros em criatura tão imbecil. O que esse Pastor ganhou tirando da conversa daquelas comadres um sentimento tão bonito? Em que escola de Teologia aprendeu tal barbaridade, a de que levamos sete dias para chegar até as portas do Céu? E mais sete dias para ser recebido por Ele?
Meu irmão Ronaldo estava vendo Deus. Ainda hoje quando converso com alguém que foi em seu velório e o assunto resvala para Morte,esse alguém diz: Nossa, como ele estava bonito no caixão! Foi o morto mais bonito que já vi! E eu concordo – Foi o morto mais bonito que já vi.
Ronaldo (Silvio Ronaldo Alves de Melo) sempre foi bonito. Mas a vida estragou sua beleza, estava quase sempre sombrio. Muitos foram os problemas que teve na vida, começando pela deficiência visual que nunca aceitou. Por causa dela viu seus amigos se tornarem doutores, vencerem na vida, enquanto ele lutava pela sobrevivência. Casou-se pela primeira vez muito novo e apesar dos quatro filhos, o casamento acabou e ele nunca aceitou. A partir daí teve uma vida amorosa atribulada, digna de ser contada em romances (vários romances, pois cada caso era um caso sui generis). Tirando fora os ajuntamentos breves, casou-se mais uma vez e teve outro filho. Outro pesadelo, um a mais entre muitos- além de ter se tornado um alcoólatra, tinha uma personalidade emocional bipolar. Era capaz de conquistar o mundo em um dia e no outro buscar a morte. Um dia, sem que ele estivesse procurando, ela chegou. Queixava-se de estar com dor de dente, mas recusava-se a ir ao dentista. Enquanto um de seus filhos o visitava, teve um desmaio. Levado imediatamente para um PS, o diagnóstico veio rápido: tumor no cérebro. Isso foi em abril. Chegou a ser operado e embora a operação tenha sido um sucesso, não resistiu.
Quando cheguei ao seu velório, tive um choque. Ele estava lindo, muito bonito mesmo. Nada mais lhe importava. Estava tranqüilo, sem dores, sem contas para pagar, sem ninguém lhe exigindo nada. Eu não me cansava de olhar aquele homem tão bonito deitado ali, no caixão. E todos os que chegavam diziam a mesma coisa. Nossa, como ele está bonito! Mas ninguém percebeu o fato real atrás daquele semblante de paz. Nem eu. Só descobri agora: Ele estava vendo Deus.
(Para Lazara Papandrea
Minha amiga Lazara Papandrea, amiga do RL e do Face e amiga pessoal de meus amigos Lúcia/José Reinaldo, escreveu um texto que me deixou reflexiva. Conta ela que ouviu a conversa de duas mulheres na calçada de uma Igreja, enquanto fingia amarrar os cadarços dos sapatos(Certamente para ouvir melhor, sem causar constrangimento). As mulheres comentavam as feições de um morto, muito bonito e sorridente e concluíram que, para estar tão feliz ele só poderia estar vendo Deus. Mas aí alguém se intrometeu na conversa: o Pastor da Igreja, dizendo que elas estavam blasfemando porque para chegar até a porta da morada de Deus ele levaria no mínimo sete dias e mais sete para ser recebido por Ele.
Não vou aqui falar sobre o que Lazara disse a respeito, vamos esperar que ela mesma poste o texto no RL para que todos leiam da forma exata como ela contou, uma forma muito gostosa por sinal. Afinal Lazara é uma das melhores escritoras do Recanto. É poeta e seus poemas são primorosos. Lazara mora em Juiz de Fora e fico embasbacada com a qualidade e a quantidade de bons escritores que essa cidade tem aqui no Recanto. Vou falar, escrevendo, sobre duas coisas – a impertinência desse Pastor de meia tigela e sobre o morto mais bonito que eu já vi. E eu que nem tinha pensado na razão de sua beleza! Agora sei, graças a essas duas mulheres conversando na calçada de uma Igreja em Juiz de Fora e a minha amiga Lazara que ouviu por mim: meu irmão Ronaldo estava vendo Deus.
Sou uma mulher apaziguada. Mesmo me sentindo assim, o que significa que hoje aceito coisas que não aceitava antes, não perdi minha capacidade de indignação. Ouvindo eu diretamente essa conversa, sei que não resistiria e me intrometeria. Certamente soltando os cachorros em criatura tão imbecil. O que esse Pastor ganhou tirando da conversa daquelas comadres um sentimento tão bonito? Em que escola de Teologia aprendeu tal barbaridade, a de que levamos sete dias para chegar até as portas do Céu? E mais sete dias para ser recebido por Ele?
Meu irmão Ronaldo estava vendo Deus. Ainda hoje quando converso com alguém que foi em seu velório e o assunto resvala para Morte,esse alguém diz: Nossa, como ele estava bonito no caixão! Foi o morto mais bonito que já vi! E eu concordo – Foi o morto mais bonito que já vi.
Ronaldo (Silvio Ronaldo Alves de Melo) sempre foi bonito. Mas a vida estragou sua beleza, estava quase sempre sombrio. Muitos foram os problemas que teve na vida, começando pela deficiência visual que nunca aceitou. Por causa dela viu seus amigos se tornarem doutores, vencerem na vida, enquanto ele lutava pela sobrevivência. Casou-se pela primeira vez muito novo e apesar dos quatro filhos, o casamento acabou e ele nunca aceitou. A partir daí teve uma vida amorosa atribulada, digna de ser contada em romances (vários romances, pois cada caso era um caso sui generis). Tirando fora os ajuntamentos breves, casou-se mais uma vez e teve outro filho. Outro pesadelo, um a mais entre muitos- além de ter se tornado um alcoólatra, tinha uma personalidade emocional bipolar. Era capaz de conquistar o mundo em um dia e no outro buscar a morte. Um dia, sem que ele estivesse procurando, ela chegou. Queixava-se de estar com dor de dente, mas recusava-se a ir ao dentista. Enquanto um de seus filhos o visitava, teve um desmaio. Levado imediatamente para um PS, o diagnóstico veio rápido: tumor no cérebro. Isso foi em abril. Chegou a ser operado e embora a operação tenha sido um sucesso, não resistiu.
Quando cheguei ao seu velório, tive um choque. Ele estava lindo, muito bonito mesmo. Nada mais lhe importava. Estava tranqüilo, sem dores, sem contas para pagar, sem ninguém lhe exigindo nada. Eu não me cansava de olhar aquele homem tão bonito deitado ali, no caixão. E todos os que chegavam diziam a mesma coisa. Nossa, como ele está bonito! Mas ninguém percebeu o fato real atrás daquele semblante de paz. Nem eu. Só descobri agora: Ele estava vendo Deus.