VIVA E DEIXE-SE VIVER
Há alguns dias, eu me deparei com a seguinte frase:
"Você nunca sabe quanto tempo você tem com alguém, então não esqueça de dizer eu te amo enquanto você pode.” - Michael Jackson.
Isso mexeu profundamente comigo.
Praticamente, esta frase tornou-se um sino gigantesco que ficou badalando na minha mente pelo resto do dia, ecoando com toda sua intensidade nos meus neurônios.
Nós, na correria do
dia-a-dia moderno, tão conectados e tão distantes ao mesmo tempo, preocupados com os prazos, metas e horários de um script infernal rotineiro, acabamos por negligenciar algumas coisas que deveriam ser prioridades em nossas vidas.
Engolimos a comida sem saboreá-la, nos preocupamos mais com as notícias da tv do que com as novidades em casa e por muitas vezes, adiamos um abraço, um beijo, um afago, simplesmente porque aquele e-mail possui uma “prioridade” naquele momento ou porque seu cliente ligou em um horário inoportuno. Então, veio pairar sobre meus pensamentos, a seguinte situação:
E se a sua esposa, sua fiel companheira de todos os momentos, morresse neste exato instante? Como você suportaria a angústia e o sofrimento de não possuir mais o seu sorriso, o seu carinho, a presença forte e imprescindível do seu lado? E se isto acontecesse após uma briga, uma discussão ou até mesmo, durante uma situação absolutamente imbecil e desproposital, ferindo sentimentos mútuos?
Como você conseguiria lidar com isso, Fábio?
Refleti sobre isso durante algumas horas. Não conseguia separar a imagem presencial dela do resto da minha vida. Então, aprofundei meus pensamentos:
E se a minha filha morresse? Crianças morrem o tempo todo, pelas situações mais absurdas e inimagináveis. Frágeis e curiosas, quem consegue sobreviver aos 12 anos iniciais de vida, já burlou a morte pelo período mais suscetível de sua existência, só perdendo para a velhice. Como suportar a dor inimaginável de não ter mais o seu doce sorriso, o cheiro infantil do seu perfume e o seu abraço sincero e calorosíssimo? E se eu tivesse procrastinado a atenção desejada, sua vontade de sentar no meu colo, uma historinha de fadas antes de dormir ou simplesmente deixado de retribuir o seu “eu te amo papaizinho querido” com um beijo?
Como você conseguiria VIVER com isso, Fábio?
Simplesmente, não consegueria. Se minha filha morresse, provavelmente eu seria enterrado ao seu lado, junto com ela. A dor seria insuportável e provavelmente, incompatível com a minha vida.
Então eu pensei como seria se EU morresse. Pensei nas coisas que eu deixei de fazer, nas coisas que eu deveria fazer e nas coisas que eu desejava fazer. Pensei nas frases que eu deixei de dizer, nas frases que eu deveria dizer e nas frases que eu desejava dizer.Pensei no tempo perdido, no tempo passado, no que estou fazendo no presente e na hipotética probabilidade de tempo que me restaria, num futuro misterioso que consome-se furiosamente a cada segundo de vida que passa…e que não retorna, jamais.
Então, veio o maior e mais medonho de todos os pensamentos, o maior medo da Humanidade ( e que resultou na criação de divindades, no conceito de alma imortal - e, consequentemente - a imortalidade “além-morte”):
- E se REALMENTE não existir mais nada, além da morte? Sem alma, sem céu, sem inferno, nada. O vácuo. O vazio absoluto. O apagar das luzes e o silêncio absoluto. Literalmente, o “dormir na eternidade”? Sem ver mais meus amigos, sem interagir mais com minha família, sem ao menos, ouvir meus pensamentos. Sem ao menos, ter ciência do meu “eu”. A própria inexistência do meu ser, nesta existência. Retornar ao tempo que era ANTES de eu nascer: ao nada.
Como ateu e budista, esse não seria um conceito muito diferente do que eu imagino ao final da minha vida. Afinal, minha matéria e energia integrariam-se ao Universo e este Fábio, que vos escreve, deixaria de existir, para nunca mais existir. Pela lei de Lavoisier (“Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”) e pelos princípios filosóficos budistas eu até existiria algum dia, mas esta essência individualista aqui, o Fábio que vocês um dia conheceram, tsc,tsc,tsc… esse já era, nunca mais...
Como humano, é ÓBVIO, que o nosso desejo por “permanência infinita” no Cosmos prevalece no nosso subconsciente, seja ele em qual estado for: etéreo ou não - e daí a razão porque construímos Deus à nossa imagem e semelhança - na esperança de vivenciarmos uma experiência infinita e divina.
Porém, foi justamente ao chegar nesta conclusão, que eu reafirmei meus propósitos de aproveitar ao máximo minha permanência aqui, com minha família e com os meus amigos, deliciando-me com cada bilionésimo de segundo de vida, pois, se esta experiência é ÚNICA, então vou curtir cada momento desta viagem.
Cada sorriso, beijo, frase, sabor, cheiro. Cada gesto, cor, toque, sensação. Não pretendo privar-me de nada que possa contribuir para que esta minha viagem seja digna de primeira classe - e vou contribuir ao máximo para que esta viagem seja prazerosa para as pessoas que eu amo.
Sendo assim, eu DEVO curtir cada momento. É a MINHA OBRIGAÇÃO, pois eu - assim como você - somos privilegiados de estarmos vivos, ainda que com condições de saúde e facilidades de conforto diferentes…mas estamos VIVOS - e é isso que realmente importa.
Não há preço pela vida: Podemos dormir, acordar, comer, beber, amar. Podemos ver o sol, sentir a chuva, arrepiar de frio e suar escaldantemente. A vida não tem preço.
O VIVER é um prazer único, que só quem viveu, soube como foi.
Então, viva.
Viva a vida e deixe-se viver.
Ana Lucia, te amo. Filha, te amo. Amigos, amo vocês.
Fabio Andre Marchi
Rondonópolis, 03/12/2012