FM Natureza
E o dia vai amanhecendo. Primeiro os galos e primeiramente estão ensaiando o clarear. Isso mesmo, ainda é noite quando os galos e garnisés cantam pela primeira vez, afinam e limpam suas cordas vocais. Mais uma ou duas horas e eles estarão prontos. Até que comecem o grande concerto dá pra dormir mais um pouquinho, é a noite no seu último pedaço de escuro.
Tudo pronto, agora é pra valer, os galos começam, um vai emendando no canto do outro e a manhã, como disse o poeta, vai sendo tecida. Depois chegam os músicos de pequeno porte, mas de grande sonoridade para o concerto, os passarinhos. Sabiás, canários, tizis, bem-te-vis, sanhaços...tomam seus lugares nos galhos das árvores, pautas dos fios, cumeeiras de telhados, antenas de televisão e começam a transmitir suas melodias. Elas vão se misturando e no final é um só canto, uma só música: a música do amanhecer. Lá na frente, longe dos outros, vão os pequenos boiadeiros, mas com seus poderosos cantos, tocando a lua e as estrelas para o céu do Japão.
Neste despertar, que dura quase meia hora, há um pacto pelo canto. O tucano esquece o bem-te-vi com seus apetitosos filhotes e canta, apesar do bico, o seu canto curto; o gavião não é espiral ou rasantes certeiros, faz seu som também; os sanhaços e saíras não voam direto no doce das frutas, cantam primeiro o parabéns para a natureza; as sementeiras ainda guardam o orvalho antes do pouso dos digamos passarinhos naturebas.
No acordar dos galos, garnisés e passarada a vontade de cantar chega em primeiro lugar. Primeiro o canto, depois o alimento. Ou a obrigação de cantar para acordar o sol que iluminará seus alimentos.
Seja o que for, já tenho no amanhecer mais que um acordar para a barulheira da descarga, o escovar dos dentes, a água fria no rosto com a quente do café...Seja o que for, acordo primeiro para esse concerto ao vivo que a estação primavera está transmitindo todos os dias pela FM Natureza.