Tô cansada de fazer marmita
Estava num ônibus ( sempre pego um para ir ao centro de minha cidade), envolvida na leitura de Adélia Prado (amo!), quando o mesmo fez uma parada.Nesse momento, interrompi a leitura e olhei pela janela.Foi o suficiente para capturar uma cena como outras tantas que sempre me chamam a atenção.É que tenho um gosto peculiar: adoro prestar atenção no comportamento humano.Então, vira e mexe, o meu olhar e os meus ouvidos captam algo que geralmente passa despercebido à maioria.
Dessa vez vi uma mulher ainda jovem (não devia ter cinqüenta anos) falando de forma descontraída com as pessoas que também aguardavam o ônibus.A maneira como se trajava lhe conferia ainda mais jovialidade.Usava jeans, colete preto e um boné bem moderninho.E de maneira divertida falava sobre o seu dia estressante.Disse que saíra bem cedinho de casa pra fazer um exame de sangue e que somente àquela hora (mais ou menos 15h) fora liberada.E que tinha muito trabalho esperando por ela, principalmente as marmitas dos filhos.
Pela maneira que falava, devia ter dois, três ou mais filhos adolescentes ou jovens adultos.”Tô cansada de fazer marmita”-disse.Todo dia é essa peleja.No final de semana eles somem com as namoradas.A diversão é com elas, o trabalho é comigo.Queria que eles sumissem pra lá, fossem cuidar da vida deles.Mas essa moçada não quer saber de nada não.Pelo que estou vendo, vou ficar velhinha com eles todos nas minhas costas.
Ela falou tudo isso mas com uma expressão divertida no rosto.Pelo que pude notar, era a típica mãe que provavelmente cuidou (e cuida) dos filhos sozinha e que assume toda a responsabilidade familiar.
O ônibus deu continuidade a seu trajeto.E antes de retomar o livro de Adélia Prado, me pus a pensar na cena que acabara de presenciar.O desabafo, mesmo que bem humorado, da mãe, era um desabafo.Denunciava uma insatisfação.Os filhos já não eram crianças, tinham suas namoradas, viviam a sexualidade deles, tentavam ser felizes. E ela, a mãe? O que lhe sobrava? E a mulher, onde se situava? Pela sua vestimenta dava pra perceber que ainda estava à procura, como muitas.Que ainda tinha desejos, vontades, sonhos.
Tenho escutado muitas queixas de outras mulheres, de outras mães, que também querem cortar o cordão umbilical e não conseguem.Querem que seus filhos assumam as rédeas de suas próprias vidas, mas está ficando cada vez mais difícil.Em tempos de total liberalidade de costumes, a moçada vai se acasalando nas casas dos pais mesmo, simplificando as coisas, vivendo eternamente como adolescentes.Mas qual é o preço de tudo isso? Adolescência prolongada até os quarenta.Mães sufocadas, que vão ficando assexuadas, estrangeiras em sua própria casa.
Bem, meu pensamento tem mania de divagações.A simples frase que ouvi dessa mulher: “Tô cansada de fazer marmita”, me fez pensar em questões existenciais e/ou filosóficas. Mas o que fundamenta verdadeiramente a vida de cada um de nós, além dessas questões prosaicas, do cotidiano?
Quase todo mundo tem que matar um leão por dia pra sobreviver, as mães então, nem se fala.Agora, quando uma delas tem a coragem, mesmo em tom de galhofa de dizer em alto e bom som: “Tô cansada de fazer marmita” já mostra uma evolução, um princípio de rebeldia que, provavelmente, levará a uma guinada em sua vida, para melhor, certamente.
Cabeça em ordem, pude voltar a me deliciar com os poemas de minha querida Adélia, sem maiores inquietações.Bem, talvez seja melhor eu dizer que mudei de inquietações.Passei das cenas urbanas para os eflúvios da alma que a poesia pode despertar em nós.
Estava num ônibus ( sempre pego um para ir ao centro de minha cidade), envolvida na leitura de Adélia Prado (amo!), quando o mesmo fez uma parada.Nesse momento, interrompi a leitura e olhei pela janela.Foi o suficiente para capturar uma cena como outras tantas que sempre me chamam a atenção.É que tenho um gosto peculiar: adoro prestar atenção no comportamento humano.Então, vira e mexe, o meu olhar e os meus ouvidos captam algo que geralmente passa despercebido à maioria.
Dessa vez vi uma mulher ainda jovem (não devia ter cinqüenta anos) falando de forma descontraída com as pessoas que também aguardavam o ônibus.A maneira como se trajava lhe conferia ainda mais jovialidade.Usava jeans, colete preto e um boné bem moderninho.E de maneira divertida falava sobre o seu dia estressante.Disse que saíra bem cedinho de casa pra fazer um exame de sangue e que somente àquela hora (mais ou menos 15h) fora liberada.E que tinha muito trabalho esperando por ela, principalmente as marmitas dos filhos.
Pela maneira que falava, devia ter dois, três ou mais filhos adolescentes ou jovens adultos.”Tô cansada de fazer marmita”-disse.Todo dia é essa peleja.No final de semana eles somem com as namoradas.A diversão é com elas, o trabalho é comigo.Queria que eles sumissem pra lá, fossem cuidar da vida deles.Mas essa moçada não quer saber de nada não.Pelo que estou vendo, vou ficar velhinha com eles todos nas minhas costas.
Ela falou tudo isso mas com uma expressão divertida no rosto.Pelo que pude notar, era a típica mãe que provavelmente cuidou (e cuida) dos filhos sozinha e que assume toda a responsabilidade familiar.
O ônibus deu continuidade a seu trajeto.E antes de retomar o livro de Adélia Prado, me pus a pensar na cena que acabara de presenciar.O desabafo, mesmo que bem humorado, da mãe, era um desabafo.Denunciava uma insatisfação.Os filhos já não eram crianças, tinham suas namoradas, viviam a sexualidade deles, tentavam ser felizes. E ela, a mãe? O que lhe sobrava? E a mulher, onde se situava? Pela sua vestimenta dava pra perceber que ainda estava à procura, como muitas.Que ainda tinha desejos, vontades, sonhos.
Tenho escutado muitas queixas de outras mulheres, de outras mães, que também querem cortar o cordão umbilical e não conseguem.Querem que seus filhos assumam as rédeas de suas próprias vidas, mas está ficando cada vez mais difícil.Em tempos de total liberalidade de costumes, a moçada vai se acasalando nas casas dos pais mesmo, simplificando as coisas, vivendo eternamente como adolescentes.Mas qual é o preço de tudo isso? Adolescência prolongada até os quarenta.Mães sufocadas, que vão ficando assexuadas, estrangeiras em sua própria casa.
Bem, meu pensamento tem mania de divagações.A simples frase que ouvi dessa mulher: “Tô cansada de fazer marmita”, me fez pensar em questões existenciais e/ou filosóficas. Mas o que fundamenta verdadeiramente a vida de cada um de nós, além dessas questões prosaicas, do cotidiano?
Quase todo mundo tem que matar um leão por dia pra sobreviver, as mães então, nem se fala.Agora, quando uma delas tem a coragem, mesmo em tom de galhofa de dizer em alto e bom som: “Tô cansada de fazer marmita” já mostra uma evolução, um princípio de rebeldia que, provavelmente, levará a uma guinada em sua vida, para melhor, certamente.
Cabeça em ordem, pude voltar a me deliciar com os poemas de minha querida Adélia, sem maiores inquietações.Bem, talvez seja melhor eu dizer que mudei de inquietações.Passei das cenas urbanas para os eflúvios da alma que a poesia pode despertar em nós.