NOSTALGIA: O CARTEIRO E AS CARTAS DE AMOR.

A palavra nostalgia nos remete ao sentido da saudade de tudo aquilo ou alguém que foi bom em nossa vida. Quantas saudades daquele tempo, de um tempo parecia não passar. Quantas poesias nos levam a saudade de tudo àquilo que passou e ficou, ficou como um registro gostoso, saboroso, se é que podemos falar assim: dar um sabor as coisas que foram agradáveis em nossa vida.

Nostalgia do chamado do “carteiiirooo” era assim que o carteiro gritava do portão e o cachorro corria na nossa frente para atender com latidos aquele chamado que ansiávamos por vezes na espera de alguma carta de amor. E eis que a carta chegava e com o coração explodindo de alegria corríamos para o quarto e ali no frenesi do momento líamos aquela carta quantas vezes o prazer nos permitisse. E o aroma que brotava da carta, a caligrafia desenhada com esmero para que pudesse ser compreendida nos detalhes era algo inconfundível do amado e da amada. As cartas geralmente registravam as juras de amor e as saudades que a distancia impunha entre os amantes. É fato que os mensageiros do amor, carteiros, por vezes traziam noticias tristes em cartas e telegramas, mas na maioria das vezes eram cartas de amor ou de noticias de parentes distantes.

Guardar as cartas numa caixa selecionada somente para esse fim é outro ponto do tempo que recebíamos as cartas de amor. E quando os namoros eram às escondidas? Quanta angustia para esconder as cartas que guardávamos nos lugares mais inusitados, guardávamos e procurávamos assim proteger a identidade do nosso amado. Às vezes a interdição vinha porque éramos jovens demais, noutras porque o rapaz não era de boa família e assim tanto moços como moças se viam as turras dos pais contra aquela relação. E nós como jovens, vivendo as contradições da vida, insistíamos, às escondidas, no romance até que o tempo se incumbisse de dar o fim na relação. E após algum período de amarguras nos envolvíamos noutro amor.

Assim o tempo entre os amantes passava no movimento das cartas que traziam em si as juras de amor e talvez se pretendessem perpetuar essas juras inseridas no perfume e na caligrafia bem desenhada afastando qualquer duvida da paixão entre eles. Era o tempo em que a figura do carteiro tinha uma importância considerável nas trocas de mensagens entre as pessoas.

Hoje com a evolução das coisas e na correria do tempo, não se pode esperar uma carta de amor, antes disto chega via internet uma mensagem cujo conteúdo amoroso não precisou do carteiiirooo para transportar a boa nova, precisou apenas de um teclado e de manter a conta do provedor em dia e num clique o apaixonado envia a mensagem de amor e o amante ávido pela chegada da mensagem, liga o computador e constata ali mesmo o recebimento da mensagem O perfume? A caligrafia? A caixa onde guardar as cartas? A espera do carteiiirrooo? Tudo isto fica no passado, porque na evolução do tempo a espera custa tempo e dinheiro. Porém, nossa mente preserva um espaço onde através das emoções nos recordamos das passagens significativas de nossas vidas e neste processo a lembrança da vez foi da figura do carteiiiroo trazendo as boas novas e também a más noticias, afinal não vivemos apenas das alegrias.

Graça Costa

Novembro de 2012.