Um domingo de Futebol

Era domingo, e como todo domingo, lá estava ele, todo animado e ansioso para que a tarde chegasse logo. Fazia três anos que não voltava lá, desde que seu pai faleceu, nunca mais tinha ido ver seus heróis em ação.

João Pedro morava em São Paulo e todos os domingos ía ao Pacaembu, o estádio municipal, ver seu time em campo. Acompanhado de seu pai, ele torcia para o Corinthians, e o estádio era um lugar onde pai e filho sempre estavam em perfeita sintonia.

Dentro de casa a história era outra, a vida dura, com muitos obstáculos e dificuldades não deixava transparecer a imensa alegria que ficava estampada no rosto do pai naqueles domingos alegres. O pai saía cedo para trabalhar na construção cicil. Pedreiro e de pouca escolaridade, ganhava o suficiente para sustentar a família e ir aos jogos do seu time.

Jão Pedro era o fiel companheiro do pai e a amizade dos dois era envolvida em cores pretas e brancas e crescia a cada domingo de sol ou chuva, dentro do pequeno Pacaembu. Infelizmente, numa tarde anterior a uma final de campeonato Paulista, um jogo importante entre Corinthians e Santos, veio a notícia de que o pai havia falecido.

Ele havia sido levado ao hospital uma semana antes, com dores no peito, nada muito grave, porém, naquela tarde que deveria ser de festa para a dupla fanática, se transformou em dor e agonia para o agora solitario João Pedro.

Não acreditava que aquilo pudesse estar acontecendo. Estava tudo pronto, o pai sairia do hospital, os dois iriam juntos ao estádio ver aquele jogo, aquele título. Mas o pior aconteceu, não só para seu pai, as também para seu time que acabou perdendo o jogo. João Pedro ficou meses sem ver os jogos, sem vestir suas camisas, sem sorrir. Para ele não havia mais graça naquela coisa de ser torcedor. Sem seu pai, ele não queria mais sentir aquela euforia.

Mas com o tempo, foi percebendo que a única coisa que unia ele e o pai ela aquele time, aquela torcida. Lembrou-se que eles quase nem se viam e casa, mas nos domingos conversavam sem parar, sorriam e compartilhavam uma mesma paixão.

Com o passar dos dias, foi voltando a ver os jogosm a gostar do novo elenco que formava o time, acompanhar as competições do mesmo modo que fazia antigamente. Mas agoram três anos após a morte de seu pai, ele estava ali de novo, prestes a sentir o mesmo extase e felicidade de outrora.

Chegou ao estádio por volta das 15:00 horas, logo na entrada um calafrio tomou conta de seu corpo, como se tivesse sentido a presença de seu pai. Sentou-se no mesmo lugar em que costumava sentar-se. O mais inacreditável era que novamente se tratava de uma final entre Corinthians e Santos, mas dessa vez seria diferente.

A tarde estava alegre e o céu colorido num lindo azul com tons alaranjados, com cara de por do sol. João Pedro se sentia acolhido e extremamente bem. Os cantos da torcida traziam boas vibrações e finalmente saiu o primeiro gol. Nesse momento as arquibancadas tremeram e mais de 3 mil pessoas entoaram um só grito: GOOOOOOOOOL.

Aos trinta munitos do segundo tempo o Corinthians marca mais um e acaba com o Santos. É o campeão daquele ano. Três anos depois, João Pedro sente que aquela tarde se completou, seu pai não estava lá para pular e cantar, nem para ver aquela festa, mas as memórias do seu filho estavam vivas.

Durante os 90 minutos de jogo, no domingo belo e ensolarado, ele reviveu em mente, todos os anos com seu pai. Todos os jogos, alegrias, tristezas, gritos, frustrações, sorrisos, vitórias e derrotas, e finalmente, depois de tanto tempo, conseguiu tirar a tristeza do peito, e terminar aquel tarde de festa que havia sido adiada por três anos.