SOLTANDO OS BICHOS
Vejo-me a refletir sobre o que nos faz impotentes, e concluo: amor, desamor, dor, insensatez, violência, desprezo, calúnia, traição, mentiras, um sem fim completaria meu raciocínio e não me daria qualquer resposta lógica ou coerente que justificasse a aceitação, seja qual for a circunstância.
Questiono ainda os fatores que levam tantas pessoas à submissão de qualquer espécie, a exemplo das mulheres que permitem que sua vida, seus corpos e suas almas sejam aviltados por maridos agressores ou frios o bastante para simplesmente ignorarem-nas sob todas as formas ou, ainda, em casos como aqueles que levam algumas pessoas a cometerem atos insanos, cruéis, que por vezes chegam ao extremo da loucura, e terminam em tragédias absurdas, que chocam a todos.
Outros tantos absurdos imperam em todos os níveis da sociedade, pais e filhos que se distanciam de tal forma que jamais seriam capazes de um reencontro, até porque, muitas vezes se lançam em caminhos sem volta.
Casais que de uma hora para a outra se tornam inimigos em nome de um amor falido, e ainda não percebido, cuja instabilidade tem provocado rompantes de loucura e crueldade impossíveis de serem descritos e absorvidos.
Jovens que se perdem pelo caminho, em busca de um "não sei que", que chega camuflado de liberdade, de sensações diferentes, aparentemente boas, mas que em verdade representam o fundo dos inúmeros poços que se enumeram pelos cantos das cidades, por vielas escuras e sombrias e que os arrastam por uma estrada desconhecida, infinitamente triste e solitária.
Um tempo em que vivemos a prisão em liberdade, uma vez que toda a sociedade se vê submetida a um sistema imposto e falido, no qual não há mais espaço para as pessoas de bem, que hoje, numa imensa e irônica inversão de papéis, se veem presas em suas próprias casas, enquanto a criminalidade se agiganta pelas ruas das cidades, que as fazem vítimas de uma realidade que caracteriza mais um marco de opressão na história.
Portanto, nesta breve e sintética análise, observo a impotência e a fragilidade do ser humano, diante dos diversos obstáculos que o cerca e, vejo, sobretudo, sua capacidade de levantar-se novamente diante das adversidades, de reconstruir-se, ainda que juntando os pedaços espalhados pelo chão, manchados pelo suor e sangue.