A VELA E A VIOLA

Dizem que no céu há uma vela acesa para cada pessoa que há na terra. Cada vela é segura por um anjo. É a vela da vida de cada um. Dizem que as situações difíceis, pelas quais a gente passa, fazem com que algo, como uma corrente de ar, assopre a chama dessa vela, a ponto de, às vezes, ela quase apagar. Mas ela só se apaga mesmo quando a vela acaba... E a pessoa morre.

Com os violeiros é diferente. Para cada violeiro, há uma viola no céu, tocada por um anjo. E os danadinhos são tão bons que tocam modas celestiais, danadas de bonitas! Cada uma dessas violas é a viola da vida de cada violeiro. Mesmo tendo cordas de aço, como toda viola, mesmo sendo tocadas por dedos angelicais, essas cordas se desgastam. E, a cada situação difícil por que o violeiro passa, uma corda acaba por arrebentar. Mas, ainda assim, os anjos continuam tocando suas belas modas angelicais, mesmo que reste, apenas, a turina, que é a cordinha mais fina da viola. Quando a última corda da viola arrebenta, seu violeiro não morre... Ele vira estrela... E vai morar no céu... Não sem antes se acertar com Deus.

Sei que minha violinha, lá em cima, já teve algumas de suas cordas arrebentadas. Mas acho que Deus, de tão bondoso que é, colocou um anjo-violeiro danado de bom para tocá-la. E esse anjo deve ter dedos muito suaves e unhas tão macias que quase não desgastam as cordas da violinha.

E assim, vou vivendo, ponteando minha violinha caipira, pensando na minha amada, enquanto um anjo-violeiro ponteia, no céu, a viola da minha vida. Aos amigos violeiros, deixo, aqui, meu pedido: Quando arrebentar a última corda da viola que está nas mãos do anjo e eu não mais puder pontear a minha, façam, em torno de mim, uma boa roda de viola, cantando uns modões bonitos, cateretês, cururus, pagodões e (quem sabe?), até mesmo, um bom catira. No caminho para me acertar com Deus, quero ir ouvindo suas violas, seus cantos, as palmas e batidas das botinas no chão.