NÃO ENTENDEMOS A NÓS MESMOS

NÃO ENTENDEMOS A NÓS MESMOS

Quizera eu poder escrever, sem a preocupação de rever a progressão do pensamento que escrevo. Porém, há a censura natural aos erros cometidos no desenrolar dos fatos expostos.

Quando ainda somos criança, nada de exames críticos do que se quer expressar e quase sempre se consegue explicar em poucas palavras, do que, se quer ser entendido. O choro de uma criança, para os pais, funciona como uma linguagem, capaz de induzir a esses, a necessidade premente da criança que chora.

Mas, o tempo passa e com esse, também passamos de criança a adolescência até atingirmos a fase adulta, e com essa, começa a nossa Torre de Babel.

A complexidade da pessoa humana, chega a beirar o absurdo do incompreensível.

Na adolescência, não entendemos os adultos: pais, mães, avô, avó e muitas outras pessoas, assim como, os adultos não conseguem ou não querem compreender os jovens, nessa fase de rebeldia. Seus dialetos, quase incompreensíveis, tanto na linguagem falada, quanto na escrita. Por meio da Internet, convenhamos, ninguém se atreve a entender, a não ser os própios; os namoros arrojados, que os adultos, não se atrevem a comentar por medo de atingir ao jovem, naquilo que eles chamam de "minha individualidade", que nestes momentos, só a eles pertencem. Porém, ao se depararem com problemas circunstanciais, aí sim, os pais ou parentes, se fazem necessários. E assim, prosseguimos no nosso confuso relacionamento com nós mesmos.

Passamos desse período, e finalmente chegamos na fase adulta, "a idade da razão". Mas, que razão? É fato, o embaraço em que nos colocamos dias após dias; os desatinos que cometemos, e aí, pedimos a compreensão dos outros; foi ele quem não compreendeu, foi ela que quis assim. E certo estou, será sempre do outro a falta de compreensão.

Já ouvi de alguns pais, quando os filhos estão passando por algumas dificuldades emocionais, a insignificante frase "quando casar passa". E é nesta época da vida, que a incompreensão e a discórdia parecem aflorar com mais vigor.

O individuo se casa, passa de filho a pai e prossegue na caminhada, rumo a plenitude tão sonhada, quando ainda jovem. Todavia, o egocentrismo do ser humano, costuma generalizar os problemas reinantes em uma família, propiciando assim, o descontrole babélico.

A esta altura o casamento passa a ser sinônimo de confusão, e não mais de união, "até que a morte os separe". Aí, vem a queixa: você já não é como antes, já não me amas como quando namorávamos, você não me entende... E assim, o homem busca no limiar do horizonte, explicações para suas duvidas, indagações e quase sempre, nada encontra como resposta as muitas perguntas que ficaram pelo caminho, porque estas, nunca foram feitas quando se faziam necessárias e o caminho para a solução desses desencontros, quase sempre, nunca foram apontados.

Um casamento tem quase cem por cento de chances para não dar certo, são pessoas diferentes, que se ligam a pessoas diferentes, famílias estranhas, de regiões diferenciadas, hábitos quase sempre opostos, uma verdadeira salada, em que todos os pedaços de frutas nem sempre estarão a mostra.

No inicio de um casamento o que liga as pessoas são o fogo da paixão, o amor incondicional; mas, com o passar do tempo, o que fica a ligar uma família por muitos anos, são os amores companheiro, compreensível, participativo, e não aqueles feitos a base de renuncias; que não muito tarde será cobrado a perda triplamente, pelos formadores da base familiar.

Apesar do homem ser gregário, acredito que uma opção para melhor acomodar essas divergências naturais do ser humano, é a pessoa de uma certa forma, passar alguns períodos de sua vida, num encontro consigo mesmo, horas afastado do meio familiar, podendo assim, repensar o futuro; buscando no passado tudo que realizou, deixando para trás o que deu errado e renovar o que deu certo, sempre aprimorando os feitos no sentido de como melhor atingir os seus objetivos sonhados.

E nessa babel dos nossos tempos, quem sempre sai perdendo é o grupo afetado, embora a base formadora do núcleo familiar, homem e mulher, não dimensione o que foi perda ou ganho nesse jogo babilônico que é a vida desse ser classificado como "humano".

Dezembro de 2006

Feitosa dos Santos, A.