MENSAGEM NÃO RECEBIDA

MENSAGEM NÃO RECEBIDA

A localidade de nome Amizade, no sul do país, era uma pequena cidade de 20.000 habitantes, onde praticamente todos se conheciam pelo nome ou quando não, pelo menos conheciam-se de vista.

Thiago é o nosso personagem, um jovem de 18 anos que era portador de mal incurável. Ele o sabia, e por isso, era arredio, embora apreciasse freqüentar ambientes públicos, onde poderia ver conhecidos, cumprimenta-los e com eles conviver, porém sem manter diálogos.

Um lugar de sua preferência, onde ele ia periodicamente, era no shopim, para comprar revista e trocar olhares com uma atendente jovem como ele mesmo.

Não havia diálogos, somente olhares furtivos. Era porém sua intenção, convidá-la a sair, passear, conversar coisas própria da idade, mas sempre ficava nas intenções. E cada vez que ele regressava, deixava registrado num cartão dentro da revista a mensagem daquele dia. As revistas compradas nem sempre eram lidas, porque tudo não passava de pretexto para um colóquio de olhares distantes e só aproximados nos momentos da entrega da revista.

Com insistência das visitas, a jovem atendente ficou cativa do jeito, e das atitudes do rapaz e sempre que havia oportunidade também ela colocava u’a mensagem na revista.

Ele lia, relia e a deixava na mesma página, era o seu fetiche. E como todos têm o “seu dia”, especialmente os de carta marcada, aconteceu que Thiago piorou repentinamente e veio a falecer.

Seus familiares desconfiavam que a aquisição das revistas envolvia comprometimento não declarado, porém ninguém ousava questioná-lo.

Com seu falecimento, seus familiares ficaram conhecendo um envolvimento sentimental que se nutria e vivia em função da aquisição de revista. Mas nada denunciava compromisso e cumplicidade porque as mensagens fundamentavam-se em insinuações, nada definitivo.

Causou surpresa que a última revista ele não tivera oportunidade o de Le-la; a morte se antecipou ao seu conhecimento.

A mensagem era diferente das anteriores porque a jovem fazia-lhe um formal convite para no domingo próximo, irem passear, sentar nos bancos do jardim, comerem pipoca, e rirem da extravagância dos outros porque também eles seriam alvos das mesmas apreciações.

Infelizmente, o convite embora recebido, a ele não lhe foi permitido desfrutá-lo; embora fosse talvez a grande ambição de sua jovem vida. A vendedora ao tomar conhecimento do evento deixou escaparem duas lágrimas e exclamou: - Há como eu apreciaria transformar suas tristezas em alegres momentos.

A última revista onde havia mensagem dele, começava onde se lia: “fulana, sou tímido demais, tu o sabes; eu te amo. Tua aceitaria...”

A mensagem parou ai e pelo visto o convite dela não foi conhecido e nem o bilhete dele transmitido. Ficaram ambos embriagados e envolvidos somente pelas intenções.

Como se vê amaram-se, eles o sabiam mas jamais o disseram, este era o combustível dos amantes- o segredo de ambos para ambos.

Ciro

Ciro
Enviado por Ciro em 03/11/2012
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