O MELHOR PRESENTE
Algo especialmente belo realça as manhãs de outubro. Mais intensa luminosidade, como se mais dourado o sol. Ele se mostra inteiro a todos os lados do horizonte, onde se pode vê-lo face a face. É um privilégio terrestre esse encontro infinito de céu e planalto. Dele o mar se distancia em longitude e altitude.
Não menos belas são as tardes. Elas se prolongam em horário de verão, quando o sol demora a declinar-se. Dias mais longos, menos breve e mais rica de encantos me parece a vida. Um belo e desafiador convite a cada instante. Como se fora o último, quero vivê-lo. O momento presente é fugaz. Dá-me a sensação do inesperado, que logo já é passado. Não sei o que é mais incerto: a continuidade da vida ou a sua transitoriedade. Pensar isso é uma impropriedade a qualquer tempo e lugar. Não se ganha vida pensando nela, mas vivendo-a.
Prova disso é que, num escape, o pensamento quase me desviou de tudo. O tempo é que me alertou: - acorda. Aí vi que o meu pulso é mais útil que o ponteiro do meu relógio. E que mais importante que as palavras são as flores. Nos jardins, é claro. As flores não têm desinências. As desinências pertencem às palavras, mudando-lhes o sentido. Se o sentido fosse único eu não estaria aqui variando. Que me desculpem a luminosidade do dia, os brilhos da tarde, por esta minha dispersão. Vou me encontrar agora; até meti a mão no bolso.
Não quero a palavra dúbia. Prefiro o chiclete. Cuspo o modismo, mastigo uma conjugação, o verbo defectível. Eu me permito chover quando alguém me colore. E cada palavra que escrevo é um fragmento de mim. Se eu resolver escrever só para mim, farei um diário. Tenho alguma dúvida sobre o que escrevo; jamais de como escrevo. De outro modo, cairia na insegurança de não saber por que e para quem.
Algo especialmente belo realça as manhãs de outubro. Mais intensa luminosidade, como se mais dourado o sol. Ele se mostra inteiro a todos os lados do horizonte, onde se pode vê-lo face a face. É um privilégio terrestre esse encontro infinito de céu e planalto. Dele o mar se distancia em longitude e altitude.
Não menos belas são as tardes. Elas se prolongam em horário de verão, quando o sol demora a declinar-se. Dias mais longos, menos breve e mais rica de encantos me parece a vida. Um belo e desafiador convite a cada instante. Como se fora o último, quero vivê-lo. O momento presente é fugaz. Dá-me a sensação do inesperado, que logo já é passado. Não sei o que é mais incerto: a continuidade da vida ou a sua transitoriedade. Pensar isso é uma impropriedade a qualquer tempo e lugar. Não se ganha vida pensando nela, mas vivendo-a.
Prova disso é que, num escape, o pensamento quase me desviou de tudo. O tempo é que me alertou: - acorda. Aí vi que o meu pulso é mais útil que o ponteiro do meu relógio. E que mais importante que as palavras são as flores. Nos jardins, é claro. As flores não têm desinências. As desinências pertencem às palavras, mudando-lhes o sentido. Se o sentido fosse único eu não estaria aqui variando. Que me desculpem a luminosidade do dia, os brilhos da tarde, por esta minha dispersão. Vou me encontrar agora; até meti a mão no bolso.
Não quero a palavra dúbia. Prefiro o chiclete. Cuspo o modismo, mastigo uma conjugação, o verbo defectível. Eu me permito chover quando alguém me colore. E cada palavra que escrevo é um fragmento de mim. Se eu resolver escrever só para mim, farei um diário. Tenho alguma dúvida sobre o que escrevo; jamais de como escrevo. De outro modo, cairia na insegurança de não saber por que e para quem.
Agora estou a escrever mais para mim que para você, leitor. Perdoe-me fazê-lo vítima. Aturar-me é sua opção se ler esta página até o final. Se não, pena não poder rasgá-la ou apagá-la.
Pena também só dizer-lhe no final: hoje é meu dia. Um primaveril 25 de outubro, que me permite “colher mais uma rosa no jardim da minha existência”. Eu me permito a tudo neste dia. Até a esta murcha e desbotada flor em forma de chavão. Tudo mais está lindo. Da cama feita à mesa posta, o desjejum, (Uma fatia de pão, ovos mexidos, café com leite, suco de laranja) o beijo de minha amada e do meu filho ao me entregarem, na caixinha, um segredo a revelar-se. Abro-a. No cartão está escrito: “Parabéns! Hoje é o seu aniversário e você vai ser pai outra vez”. Emocionado, só consegui lhes dizer o seguinte: obrigado meu Deus! Já me deste mais do que tenho merecido. E hoje não poderia ter ganho melhor presente. Estou muito feliz.O que acontecerá até o fim do dia, não sei. Depois direi.
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Pena também só dizer-lhe no final: hoje é meu dia. Um primaveril 25 de outubro, que me permite “colher mais uma rosa no jardim da minha existência”. Eu me permito a tudo neste dia. Até a esta murcha e desbotada flor em forma de chavão. Tudo mais está lindo. Da cama feita à mesa posta, o desjejum, (Uma fatia de pão, ovos mexidos, café com leite, suco de laranja) o beijo de minha amada e do meu filho ao me entregarem, na caixinha, um segredo a revelar-se. Abro-a. No cartão está escrito: “Parabéns! Hoje é o seu aniversário e você vai ser pai outra vez”. Emocionado, só consegui lhes dizer o seguinte: obrigado meu Deus! Já me deste mais do que tenho merecido. E hoje não poderia ter ganho melhor presente. Estou muito feliz.O que acontecerá até o fim do dia, não sei. Depois direi.
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