PRIMEIRO BEIJO
 
Manhã de céu bem claro, Iluminado pelo sol, um dia de verão.Que alegria! Minha mãe havia permitido que eu fosse com minha vizinha e minhas amigas à praia. Todas felizes, pois quase nunca saiamos a passeio, especialmente eu. Quando chegamos à beira-mar, todas correram para o banho. Eu preferi - me bronzear.

Fiquei em Frente a uma palhoça, onde algumas pessoas comiam e bebiam alegremente; Ah! Lembro-me como se fosse hoje: que acontecimento memorável! Nossa! Que deslumbre, quanta emoção... De repente, vi-me diante de um belo homem - másculo, bonito, pele rosada pelo bronzeado, por ser bem clarinho. Tinha cabelos levemente grisalhos... Barba perfeita e um sorriso iluminado, como quem está em paz com a vida.

Achei-o um espetáculo da natureza... Mas não seria para mim, pensei; ou seria? A concorrência era grande. Preferi ficar quietinha a me bronzear, enquanto as meninas estavam afogueadas, loucas para se envolverem. As garotas eram belíssimas - inclusive havia uma miss que desfilava pela praia, exibindo sua beleza angelical. E eu ali perdida, diante daquela visão! Vaguei em meus pensamentos, contemplando aquela imensidão de águas que espumejavam no seu infindo vai-e-vem.

Olhando naquela direção, eu sonhava. E o belo rapaz continuava lá,
sentado, dando a impressão de estar fazendo o mesmo que eu; mas não dava para definir a exata direção de seu olhar. Logo pensei: pobre de mim! Nesse instante, desinteressei-me.
Algumas das minhas amigas tinham namorados e rezavam para que eles não chegassem naquele instante. Repentinamente, minha vizinha também se deu conta de tamanha beleza masculina e me disse: as garotas estão enlouquecidas, mas ele só tem olhos para você... Como eu? Tomei um susto! Não será impressão sua? Pobre de mim, diante dessas mulheres lindas!Não tenha medo! Exclamou a vizinha.

Eu estou de olho, só não me perca de vista. Eu no seu lugar não perderia isso por nada. Esse homem parece um Deus grego. Sorri timidamente, sentindo calafrios, pois eu nem beijar sabia - era menina moça. Não posso - me aproximar nem beijar eu sabia.

A vizinha então me encorajava: - finja, mas não deixe passar! Ó, se minha mãe imaginasse que ela praticamente me jogou nos braços dele! Comecei a alimentar meu sonho; aumentou minha expectativa, mas sentia-me determinada e segura. E ele lá, na mesma enigmática posição; foi aí que, de repente, julgando estar suficientemente bronzeada, levantei-me e decidi entrar no mar.

Eu também tinha um corpo bem bonito e usava um
biquíni preto cortininha minúsculo; tinha uma cinturinha de pilão, embora me achasse baixinha. Fui para o mar e não olhei para trás, pois sempre fui muito tímida. Caminhei pensando no que a vizinha havia falado; nessa altura dos acontecimentos, já haviam chegado os namorados das outras companheiras.

Foi então que mergulhei em cima de uma onda gigante, e quando subi tomei enorme susto! Encontrei-o num mergulho naquela água quente, uma beleza exótica e apaixonante. Olhos nos olhos... Uma paixão alucinante; o meu coração pela boca! Ele sorriu para mim e disse que estava diante da mais bela mulher daquela praia e diante do mais belo sorriso. Eu fiquei intrigada, pois, minhas amigas eram muito mais bonitas que eu.

Mesmo assim, sorri timidamente; na minha cabeça, não podia deixar passar aquela oportunidade, mesmo que fosse única. Já tinha quinze anos e até então não sentira o gosto de um beijo de amor... Minha mãe me segurava com jeito: era de casa para a escola e vice-versa, debaixo de uma marcação cerrada.

De longe, minha vizinha acenava como que dizendo: - vá em frente, eu estou aqui! Ah, como desejei que me fosse roubado um beijo! Ele era irresistível, minha boca desejava loucamente aquela boca carnuda. Foi quando então ele perguntou se eu sabia nadar; respondi-lhe que não. Então ele disse que iria - me ensinar. E num mergulho, um encontro de lábios! O meu coração já saindo pela boca ofegante. Bocas enroscadas línguas numa volúpia, que sensação avassaladora, sentindo o êxtase daquela súbita paixão! Atração? Nem sei como definir...

Acho que a vizinha pensou: só falta agora o cupido aplaudir! Porém bem diferente era a expressão do olhar das minhas outras amigas; seus semblantes pareciam dizer lá dentro de si: - mas porque ela?... E foi assim o meu primeiro beijo...

Naquele mesmo dia, à noite, haveria um baile no clube da cidade e já havíamos marcado para dançar - a vizinha iria insistir para que mamãe me deixasse ir. Entretanto, eu chegara com cara de boba, fascinada por aquele homem que tinha um metro e oitenta bem trabalhados. E minha mãe logo percebeu que eu estava estranha, meio que flutuando; então ela insistiu e eu contei-lhe tudo. Minha mãe replicou: não está vendo que eu não vou deixar você sair! Do jeito que você está ele vai - te roubar. Aí, o que era felicidade virou um pesadelo; passei a noite chorando. Depois, eu soube que ele me esperou mas, como eu não fui, teve que parti para a capital.

Passados três meses fui para Recife e, como eu tinha uma idéia De onde ele trabalhava, liguei e descobri. Marcamos um encontro, dessa vez acompanhada de uma prima a tiracolo. Foi lindo nosso reencontro! Ele me pegou nos braços, rodopiou, e mais uma vez pude sentir aquele beijo; namoramos por mais uns meses. Depois, ele teve que partir para o Rio Grande do Sul a serviço. Preferi terminar e nunca mais nos vimos... Espero que ele seja muito feliz, pois me fez muito feliz somente com seus inesquecíveis beijos. O beijo da praia marcou-me para sempre!
 
Mary Jun
Enviado por Mary Jun em 19/10/2012
Reeditado em 31/01/2015
Código do texto: T3941946
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