MEU MAIOR PRESENTE
Texto escrito por meu filho Alexandre que é autoexplicativo.
"Lá no princípio, no big bang da vida, se me permitem por assim dizer,
todo ser humano já foi uma única célula. Célula essa resultado de uma
inacreditável evolução reprodutiva da natureza, fruto da combinação de
códigos genéticos de dois organismos complexos, usualmente maduros e
frequentemente inconscientes do que estão fazendo ali naquele momento
de oba-oba.
Sou fruto dessa mistura molecular, dessa “sopa moleca”, e confesso me
sentir um cara de muita sorte... pois minhas moléculas originais, que
constituíram minha primeira célula, foram cedidas por pessoas
maravilhosas, ou formidáveis como diria meu avô.
Raramente dispomos um tempo para nossa massa celular refletir e falar
sobre a admiração que sentimos por nossas moléculas originais. Um erro
bastante comum nas atribulações do dia a dia. Mas hoje eu senti que
precisava parar, pensar e escrever.
Não sou escritor, mas estou descobrindo ao poucos que lá fundo,
escondido nos meus genes herdados daquela mistura molecular, daquelas
células originais, existe sim um cromossomo literário, e gostaria de
brindar esse gosto por ler e escrever. Brindar aqueles que nos criam e
nos ensinam, que nos deram muito mais que as primeiras células, uma
vida, umas letras e que nos dão muitas boas histórias para contar.
Histórias para contar... e contar histórias.
Meu pai é um contador de histórias.
Começou meio tímido... mas muito empolgado.
Foi tomando gosto, foi tomando corpo e se tornou um escritor.
Tornar-se um escritor é uma coisa engraçada. O que torna alguém um escritor?
Esse texto me torna um escritor? Acho que não...
E publicar um livro? Publicar na internet? Ganhar prêmios?
Tudo isso ajuda, mas acho que o mais importante é: sentir-se um escritor.
Meu pai é um escritor.
E essa brincadeira toda tem deixado ele bastante feliz.
Acho que não acompanhei tão de perto, como deveria nessa nova carreira.
Parece que um filho não é preparado para ver seus pais iniciarem uma carreira.
Nossos pais nos estimulam e estão lá presentes em todos os minutos do
nosso crescimento, apoiando e prestigiando cada nota FI de sua flauta
doce como se fosse uma sinfonia extraordinária. E como nos
comportamos quando o contrário se apresenta? Não estamos preparados
para prestigiar, estimular e tirar a rodinha da bicicleta dos nossos
pais. Vamos crescendo e descobrindo que no fundo, somos todos
crianças, experimentando coisas novas e querendo mostrar nossas
descobertas para as pessoas que mais amamos.
Somos todos filhos! É isso. Somos todos crianças aprendendo, crescendo
e descobrindo novas diversões.
Pai, parabéns.
Você se inventou um escritor.
Eu sinto muito orgulho de você."