A Gostosa

Não sei como estou aqui, vivo, para contar isso a você, meu caro amigo leitor. Por que teve a ideia de me chamar para aquele show? Engraçado que estávamos tão alegres, mas agora não me lembro de nada. Nada. Nada. Disseram que eu escrevi isso quando cheguei a casa. Talvez. Agora fiquei curioso e vou ver o que está escrito... Só sei que fui a uma festa e meu rosto está dolorido. Acho que dormi de mal jeito.

“Passei o dia todo pensando como seria essa festa. Obviamente já sabia que mesmo sendo um show de pagode, haveria funk à beça. Muito funk. Nossa banda preferida chegaria muito tarde.

Durante a tarde comecei a ver a roupa que usaria. Disseram-me que lá faz muito calor, logo eu poria roupas leves, o difícil seria caminhar naquelas ruas geladas às dez da noite. Abri minhas gavetas e só vi camisas amarrotadas. Fiquei bravo e enfurecido, pois o ferro de passar roupas daqui de casa ficava comendo o tecido e eu morria de medo de queimar minhas blusas. Uma bermuda já foi para o lixo.

A tarde foi caindo vagarosa e elegante. O sol se pondo, as aves se aconchegando nos quentes ninhos e eu cada vez mais animado. Meu namoro não andava muito bem. Acho que aquela não era a mulher perfeita e a vontade de terminar tomava conta da minha cabeça cada vez mais. Acho que se tivéssemos começado a namorar hoje, com certeza eu a chamaria, mas preferi deixá-la mal informada. Essa menina quando nervosa falava demais. Meus ouvidos doíam e eu tinha que me manter calmo para não mandá-la para aquele lugar. Por isso decidi que ia com os meus amigos.

Já era noite, quando meus amigos me chamaram para ir. Minha namorada morava a três casas da minha, e eu passei olhando para sua casa com um sorriso de canto de boca. Nós fomos fazendo bagunça todo o percurso. Estávamos chutando copos e latinhas espalhadas pela calçada, ficamos falando palavrões e besteiras e falando sobre mulheres. Quando dobramos a esquina, vimos o tamanho da fila para entrar na casa, era enorme. Tinha pessoas de todos os tipos: Feios, bonitos, gordos, magros. Gostei das mulheres com aqueles vestidinhos curtos e cheios de estampa; algumas de saltos altos e outras com sapatinhos all star. Fiquei doido para entrar e ver o que tinha lá dentro. As vibrações do som tocavam meu coração e tremiam tudo. Entreguei meu ingresso, passei com nenhum veto na revista dos seguranças e finalmente entrei na festa.

Eu e meus amigos somamos nossos dinheiros e concluímos noventa reais. A pista estava cheia, eram pessoas nos esbarrando de todos os lados, querendo dançar e nós parados. Lá na frente, um palco cheio de luzes com algum MC cantando e várias novinhas dançando. A cada minuto mais pessoas entravam e nós cada vez nós ficávamos mais espremidos. De vez em quando passavam algumas correntes de pessoas que iam se deslocando. Pegamos essa corrente fomos lá para frente: para perto do palco. Chutamos vários baldes de cervejas e tínhamos que tomar cuidado também com as pessoas que bebiam com os copos plásticos na mão. Qualquer esbarrão molharia a pessoa toda e algo ruim poderia acontecer conosco.

A temperatura lá dentro estava começando a aumentar e a sede começava a rachar nossas gargantas. Decidimos inteirar nosso dinheiro e comprar um balde de cerveja. Nossa sorte era que constantemente passavam garçons por nós oferecendo as bebidas, e na segunda vez aceitamos e demos o dinheiro. Ficamos bebendo, assistindo aos shows paralelos que aconteciam e vendo as meninas dançando sensualmente até o chão. A cada gole a vergonha saía, e com isso nos tornávamos mais desinibidos. Começamos a mexer os ombros e cair no ritmo da batida. A festa estava a todo vapor. Às vezes o salão ficava todo claro e podíamos ver as beldades femininas lá no camarote. “Ai se eu estivesse lá”. Não deixei de olhar um instante. Me apaixonei por aquelas mulheres.

Eu já estava bêbado e me esqueci do show de pagode. Acho que já estava rolando, mas fiquei lá atrás conversando com umas garotinhas. Elas ficavam toda hora tirando meu boné e pondo nas suas. Não sei como consegui ficar conversando com ela, mas sei que estava lá e era isso que importava. Meus amigos também estavam meio perdidos. Aquelas meninas estavam começando a me seduzir e querer mais; e eu estava gostando daquilo. Gostei mais de uma moreninha baixinha, com o vestido bem apertado. Eu conseguia ver a silhueta da sua calcinha. Escolhi aquela. Puxei-a pela cintura e falei: “Vai ser você mesmo”. Dei um beijo nela na frente das amigas. Nem sei se era isso que ela queria, mas eu fiz.

Saí daquele meio e voltei para o palco. Minha vista já estava meio perdida. Estava tudo perdido. Nem eu sabia mais onde estava. Vi mais um grupo de meninas dançando e me aproximei. Eu poderia ter arrumado inúmeras brigas nesse dia, mas acho que estava com sorte. Vários feixes de luz, muita bebida, cigarro. A porra toda.

Senti uma mão me puxando pelo ombro e vi que eram meus amigos. “Te achamos, finalmente! Está aí vendo as novinha, né?”. Eu ri e fiquei vendo as meninas. Eu estava gostando da dança delas. Havia uma que estava de costas para mim. Parecia-me familiar. Suspeitei e resolvi chegar mais perto. A cada passo, mais aquela pessoa mais me intrigava. “Acho que já a vi em algum lugar, mas quem será?” Puxei-a pelo ombro e me surpreendi: era minha namorada! Fiquei pasmo, sem ação. Engoli seco e deixei minha latinha cair no chão. Ela também usava um vestido curto e justo com um all star branco. Eu até gostei do jeito que ela estava vestida, mas era ela, não qualquer uma. Era a minha namorada. “O que você está fazendo aqui?” Pensei.

Não consigo lembrar o rosto que ela fez quando me viu, mas ouvi um cara falando no meu ouvido: “Puxou logo a gostosa!”. Eu suspirei de raiva, e com uma ação instintiva larguei um soco na cara daquele babaca. Depois tomei um mais forte, dele mesmo. Minha vista escureceu e caí no meio de todos. Acho que a festa terminou aí para mim, mas eu não deixei ele chamar minha mulher de A GOSTOSA.”

Gabriel sCardoso
Enviado por Gabriel sCardoso em 22/09/2012
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