História de um Casamento

Início do século XX.

Ela vinha de família de imigrantes, com alguns recursos financeiros. Estudava na Escola Normal, estava noiva e apaixonada.

Um domingo, logo após o almoço em família, o noivo retira-se alegando forte dor de cabeça. Pouco depois, o pai resolve levar a família toda ao Circo recém chegado à cidade. Lá chegando, ela vê o noivo, e esconde-se para que ele não a veja. Não fala nada ao pai.

Ao chegar de volta à casa, ela tira a aliança do dedo entrega-a ao pai e pede-lhe que desfaça o noivado. Espantado, o pai pergunta o porquê de tal atitude, afinal o rapaz estava sozinho no Circo. Ela responde que, quem mente uma vez, e ainda por coisa pequena, mentirá sempre, inclusive nas grandes. E que ela não pretende passar a vida ao lado de alguém em quem não possa confiar, por mais que o ame. Passa noites e noites chorando o amor perdido, mas não volta atrás.

O tempo passa. Uma manhã de domingo, na missa, a irmã lhe diz: “Aquele moço ruivo está olhando para você.” Ela procura ver quem é, e responde: “Aquele rato branco? Deus me livre, não é para mim, não, é para você que ele está olhando.”

Alguns dias depois, estava ela indo à escola, quando o “rato branco” deu um jeito de abordá-la e trocar com ela algumas palavras. Do portão de casa, o pai viu tudo. Quando ela retornou das aulas, ouvi do pai um sermão e tanto, por ter conversado com um estranho na rua.

Passam-se mais alguns dias, e o encontro repete-se. Ela diz ao rapaz que não pode ficar ali conversando, porque já havia sido castigada pelo mesmo motivo. Afasta-se e segue para a escola.

O rapaz dirige-se à casa da moça e pede para conversar com o pai dela. Segundo os costumes da época, expõe suas sérias intenções, fornece as referências sociais e financeiras necessárias, e ouve que depois terá uma resposta. Sem nada dizer à filha, o pai verifica as referências e, após alguns dias, dá o consentimento ao rapaz.

Naquele dia, ao chegar da escola, o pai simplesmente lhe comunica que o rapaz com quem ela havia conversado, apresentara-se, dera as referências já conferidas, e havia obtido o consentimento para o noivado.

A moça, aturdida, alega que não está interessada, que não queria noivar. De nada adiantou. Oo velho calabrês não arredou pé: “um noivado eu permiti que você desfizesse, mas com este você casa, nem que eu tenha que levá-la arrastada à igreja!”

Casaram-se. Viveram juntos por 55 anos, até que ela partiu para o outro plano.

O amor acabou surgindo, construído aos poucos, ao longo do tempo, como provam os ciúmes que ela, já septuagenária, ainda sentia do “seu velho”.

Lu Narbot
Enviado por Lu Narbot em 22/09/2012
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