O casamento

   Ah! O casamento!
   Sem dúvida, o casamento é o mais lindo ritual humano! Ver uma noiva entrando na igreja, com seu vestido branco, véu e grinalda, buquê na mão, é emocionante! Ao fundo, o som de violinos tocando a marcha nupcial. E ela, bela, sorriso aberto, cheia de sonhos e planos. Um filme passando em sua mente. A ornamentação da igreja com flores brancas e amarelas é apenas um detalhe no cenário. O foco é a noiva. Todos a olham. Momento ímpar. Inesquecível. Felicidade à vista.
   Casar é o sonho da maioria das mulheres desde muito tempo. Já a maioria dos homens, acho que não sonha em se casar, eles precisam casar. Precisam de uma mulher que cuide deles. De preferência, uma mulher que saiba cozinhar, que seja de forno e fogão, e de cama, naturalmente. Também é importante que a mulher lave, passe, arrume, faça as compras, cuide do jardim, leve e busque as crianças à escola, mas que, ao final do dia, esteja linda, arrumada, cheirosa, muito bem disposta e carinhosa para recebê-lo quando chegar exausto do trabalho. Se ela também trabalha fora, não é problema dele, é dela. Ela que dê conta da dupla jornada, afinal, não brigou durante décadas, séculos, por esse direito? Se ela se vir acometida pela Síndrome da Fadiga Crônica, o mal da mulher moderna, paciência, é preciso aprender a lidar com o ônus que as conquistas lhe impõem.
   Historicamente, o casamento é uma das instituições mais importantes da sociedade. Na verdade, sempre foi um dos mais importantes investimentos. Há alguns séculos, o casamento tinha intenções explícitas de continuidade de posses de propriedades, de status, de sobrenomes, de conveniências. As famílias uniam seus interesses casando os filhos, muitas vezes sem que eles próprios se conhecessem. Há relatos que o casamento também era uma forma de controlar o comportamento animalesco dos homens, sempre em busca de prazer nos prostíbulos de outrora. Rapazes solteiros, desordeiros, libidinosos e beberrões, certamente, constituíam um grave problema para a sociedade. Também havia a preocupação de que eles logo produzissem herdeiros para preservar as fortunas e a tradição das famílias.
   Muito tempo depois, veio o casamento romântico, onde os noivos até poderiam se escolher, ainda assim, as escolhas eram baseadas na capacidade de o homem ser um bom provedor. Mas, implicitamente, também servia para o controle da sociedade, para manter a ordem, a moral e os bons costumes.
   Como tudo na vida evolui, o casamento também foi passando por transformações ao longo da História. O amor passou a ser o principal ingrediente para que duas pessoas passassem a viver juntas e não tendo, necessariamente, que oficializar a união diante de um sacerdote, pastor ou juiz. A legislação hoje, inclusive a brasileira, reconhece as relações estáveis, garantindo os mesmos direitos da união conjugal oficial aos casais que vivem em concubinato.
   Casar é bom, lógico. Eu mesma já me casei uma vez e, há quinze anos, vivo uma relação estável. Mas, acho eu, que o grande problema do casamento é a tal da promessa, feita diante do celebrante e de tantas testemunhas, de amar a pessoa até a morte. Como é possível prever o que vai acontecer depois? Como prometer algo que não se sabe se poderá ser cumprido?
   Não estamos falando de fidelidade. Estamos falando de amor. Uma pessoa pode manter-se fiel à outra e não mais amá-la. Mas a promessa foi feita, houve testemunhas, e, às vezes, muitas vezes, a pessoa não quer (ou não pode) quebrá-la. E o que vimos são pessoas infelizes, insatisfeitas, frustradas, que apenas se suportam, mas não se amam. Acho um fardo pesado demais para se carregar até o fim da vida.
   O amor é incondicional. Quem disse que para o amor existem regras? Amor obrigado, não é amor, é tortura. “A grande tolice da humanidade foi fazer do amor uma ideia. O amor é instinto. Dar-lhe cérebro é entristecê-lo”, disse Godofredo de Alencar. Se dar cérebro ao amor é entristecê-lo, acorrentar o amor é matá-lo.
   Dizem que a instituição do casamento está falida. Não é verdade. Pode até ser que tenha crescido o número de casais que vivem juntos sem oficializar a união, e que o número de divórcios venha crescendo década a década. Mas, casar ainda é o sonho de muitas mulheres. A mulher é romântica, sonhadora, e aprendeu desde criança (lendo e ouvindo as historinhas de contos de fadas) a esperar pelo príncipe encantado, aquele que vai tirá-la da torre da solidão.
   Destaco um trechinho de um livro interessante que li há algum tempo: “Mesmo com toda a evolução e a transformação pelas quais passaram, mesmo submetidas a novas exigências, mesmo sendo workaholics, as mulheres contemporâneas mantêm uma forte ligação com os desejos das mulheres de antigamente. É muito difícil, até hoje, encontrarmos uma mulher solteira que não queira se casar ou que não quis se casar em algum momento de sua vida. O sonho de encontrar o amor eterno é a mola invisível por trás de cada uma das caçadas que as mais ousadas empreendem.” diz o Dr. Luiz Cuschnir, psiquiatra e estudioso do comportamento feminino.
   Ah, o mito do amor eterno! É esse o mito que ainda leva muitas mulheres ao altar, onde elas prometem aos seus noivos que irão amá-los e respeitá-los, ser-lhes fiel na saúde e na doença, na tristeza e na alegria, na riqueza e na pobreza até o fim de seus dias. Entretanto, com o convívio, com a rotina, com os problemas que surgem no dia a dia, com as dificuldades, com as incompatibilidades, enfim, o mito desmorona e o sonho do felizes para sempre torna-se um terrível pesadelo. Quando isso acontece, a relação acaba, só resistindo ainda no álbum de fotos do dia do casamento. Se houver coragem para assumir que o amor acabou, cada um toma um novo rumo. Se não, ficam juntos e infelizes até que a morte os separe.

 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 19/09/2012
Reeditado em 24/09/2012
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