A VELOCIDADE DO TEMPO

Quando penso que já estou completando 88 (oitenta e oito) anos, agradeço a Deus a graça de chegar a esta idade, e a felicidade de termos, assim, podido acompanhar, eu e Brasília, a esposa que Ele me deu desde 1947, de ver, em sua companhia, progredirem todos os nossos onze filhos; de acompanhar os estudos dos nossos dezessete netos, quase todos já formados e exercendo a profissão que escolheram, e os demais já cursando a Universidade; de ter tido a alegria de ver chegarem os bisnetos, a primeira, Maria Luiza, já com mais de quatorze anos, uma mocinha, e o mais novo, Daniel, com um ano e meio, ainda em idade de eu brincar com ele, rir com suas estripulias. Mas, por outro lado, sinto um arrepio percorrer-me o corpo e, de certo modo, também o espírito, pois, olhando para o tempo já percorrido e vendo que a infância feliz e a mocidade venturosa, tão distantes, passaram muito depressa, e a maturidade, que eu aspirava tanto, chegou tão rápido e se converteu numa velhice que vou levando, acho que com a possível galhardia, embora com alguma dificuldade, velhice felizmente ainda lúcida, embora com a tristeza de ver que a mulher que Deus me deu como esposa ideal, a minha Brasília, já perdeu quase totalmente a sua lucidez, a inteligência que lhe era peculiar e que me seria agora tão útil, nestes dias de tanta solidão, quando a grande maioria dos meus amigos já partiu. Por isso, digo agora aos meus filhos que, se porventura pensarem em me dar alguma lembrança por esta data, que ela seja a de maior assiduidade em suas visitas, pois acredito que são elas, as visitas dos filhos, que têm impedido que esta malfadada doença de Alzheimer tenha tirado inteiramente a clareza que era tão viva nela.

Quanto à perspectiva do tempo que ainda viverei, isso está, como sempre esteve, nas mãos de Deus, pois, como disse em uma crônica anterior, Ele me tem poupado em várias ocasiões difíceis pelas quais passei. O meu atual cardiologista, ao fim de uma receita em que enumerou os seis medicamentos que devo tomar diariamente (afora os da geriatra e os da psiquiatra), deu o seguinte diagnóstico: “a) estenose aórtica severa; b) insuficiência coronária c) hipertensão arterial severa”, ressalvando, porém, verbalmente, que isso não significava rigorosamente que eu “fosse” antes dele ou de qualquer pessoa mais nova; que a nossa vida era governada por Aquele que está lá em cima, apontando para o alto com o indicador.

Agora, pergunto-me, o que é o Tempo, esse implacável senhor dos nossos dias, das horas que vivemos a cada dia? Em agosto de 2010 escrevi uma crônica, publicada no site www.recantodasletras.com.br, sob o titulo “Nós, o Tempo, Deus e os Milagres”, na qual ouso fazer algumas considerações sobre as tentativas filosóficas de definição do Tempo e até cito uma definição de Santo Agostinho. No meu entender, é um instrumento de Deus. Na Bíblia, o Tempo é citado 56 vezes; numa delas, no Ecl. 3-1, está escrito: “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus; 3-2 tempo para nascer e tempo para morrer.“ É nessa sentença que eu confio.

Hoje, como tem ocorrido há vários dias, foi um dia de recordações. Recordei meu pai, que Deus levou tão cedo; recordei meu irmão, o meu melhor amigo depois dele, que partiu desde dezembro de 1995, prestes a completar oitenta anos. Lembrei a infância e o desabrochar do meu primeiro e fantasioso amor; da adolescência, na qual eu, Seutônio, querido amigo tão moço desaparecido, confidenciávamos os nossos segredos de coração. Lembrei, também, com muita saudade, de Juquinha, meu colega de Ginásio desde 1938, anos depois meu concunhado e compadre, um amigo-irmão, que nos deixou já quase aos 90 anos.

São tantas as saudades que só Deus, na sua infinita generosidade, ajuda-me a superá-las dando-me novos amigos. Foi Ele quem, por intermédio do meu filho Giovanni, pôs no meu caminho o Prof. Raimundo Antônio (pedagogo, poeta, cronista, contista) e, através dele, algumas excelentes amigas, inicialmente apenas “virtuais”, isto é, via internet, cujos nomes peço permissão para citar: Prof.ª Edna Lopes, de Maceió (pedagoga, poetiza, cronista, contista), Ângela Rodrigues (professora, poetiza com livros publicados), Antônia Zilma (poetiza, contista, cronista), Marcia Azevedo e Celyme, ambas também intelectuais talentosas, estas quatro de Mossoró, já me tendo dado o prazer de suas visitas as três primeiras, acompanhadas, para minha alegria, do Prof. Raimundo Antônio.

O que é que posso dizer mais agora? Só render graças por tudo o que Deus me tem dado nestes tantos e tão velozes anos, e pedir-lhe para deixar-me conviver durante mais algum tempo com a minha família e com os meus, os amigos que restam da minha geração e aqueles que ganhei recentemente e me têm proporcionado tantos momentos de prazer espiritual.

Obrigado, meu Deus!

Natal,17.09.2012

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 18/09/2012
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