UNS DIAS A MAIS
Lendo uma agenda de 2002, tive a informação de que o tempo de uma rotação da Terra é de vinte e três horas, cinqüenta e seis minutos e quatro segundos. Menos de vinte e quatro horas. Exatos três minutos e cinqüenta e seis segundos para completar o dia. Antes das vinte e quatro horas serem completadas, a Terra já terminou o serviço. O que acontece nesse intervalo? Será que a Terra vai tomar um cafezinho, vai ao banheiro, acende um cigarro?
Considerando que ela continue a rotação nos mesmos 30,4 Km/segundo – conforme a agenda – vão sobrar sempre esses intervalos ao final do dia que, acumulados, são dias sobressalentes que poderiam ser distribuídos no calendário.
Esses dias seriam livres de compromissos governamentais, profissionais, agendas políticas e reuniões intermináveis. Todos teriam que cuidar da natureza e ninguém circularia pelas ruas com carros; os aeroportos estariam fechados e todos os meios de transportes à combustível ficariam nas garagens. A bicicleta seria o único meio de locomoção para visitarmos os amigos e parentes. Nada de Internet, televisão, rádio e jornal. Afinal nos dias de lambuja seríamos livres das pressões consumistas e ninguém ia querer perder a oportunidade de dar um abraço de verdade.
Eu usaria os dias “bônus” para refletir se tenho agido corretamente com o outro e comigo mesmo; visitaria os templos religiosos; tomaria café da manhã sempre na companhia das minhas filhas; estaria presente por onde tenho andado ausente; segurava na mão do meu velho pai e o levaria à praia para andar na areia; teria mais tempo para lembrar de minha saudosa mãe; brincaria mais com meu neto; conversaria mais com minhas irmãs depois do farto almoço; faria abstinência alcoólica e cantaria mais duetos com minha doce namorada.
Enquanto ninguém revolve o que fazer com esses créditos, vou dedicar os meus três minutos e cinqüenta e seis segundos diários meditando, enviando e recebendo as energias positivas que movem o Universo.