Estação do Mosquito 


Tirando o meu amigo Hélio — o Hélio Lanterneiro, como o conhecemos e chamamos em Marechal Hermes —, nem entre os moradores mais arqueológicos do bairro encontrei quem se lembrasse da Estação do Mosquito, onde, nos idos de quase tudo, existiu uma pequena plataforma de madeira, como ponto ferroviário de embarque e desembarque dos soldados e funcionários da Aeronáutica, tanto os da Intendência (que grande farra de leite em pó naqueles tempos de Aliança para o Progresso), quanto os do Campo dos Afonsos. Coisa de carbono 14, sem exagero. 

Para este cronista, que vai curtindo seu qüinquagésimo oitavo ano de juventude, a tal Estação do Mosquito sempre foi apenas o campinho do rala-coco, à margem do esquálido e sujo rio Tingüi, onde bati muita bola em começos dos anos 1960. 

Se isso não quer dizer nada — e não quer dizer mesmo, pois nunca passei de um enfezado beque de roça, um cegueta que jogava de óculos e que, para a alegria dos adversários, nunca disputava uma bola de cabeça, além de ser o maior colecionador de cartões vermelhos da paróquia —, lembremos que Dadá Maravilha, um dos nossos, começou ali e em outras peladas do bairro sua exitosa carreira de goleador nacional. Ou seja, ainda de acordo com o meu amigo Hélio, da Estação do Mosquito para os campos de honra mexicanos, uma glória só. 

É verdade que não conheci Dadá pessoalmente. Embora ele fosse apenas dois anos mais velho do que eu e morasse quatro ruas depois da minha, não éramos da mesma patota, como se dizia então. Para dizer tudo, nunca cruzei com ele nessas furiosas partidas de futebol, só nos conhecíamos de vista. 

Depois de famoso, a turma da inveja por aqui entrou a vender o peixe de que Dario, segundo eles um tremendo perna-de-pau em garoto e rapazola, era invariavelmente barrado nas peladas do lugar. Deve ser mentira. Se eu entrava até de bengala em campo, como é que iam barrar aquele cara impetuoso e fominha de gol, ainda que não fosse um virtuoso com a bola nos pés? De qualquer modo, são águas passadas, e o grande Peito de Aço já deu uma resposta à altura a esses comentários maldosos. 

Lembram-se da frase? Acho que era assim: “Nunca aprendi a jogar futebol, pois perdi muito tempo fazendo gols.” O homem estava certo, até o momento ele só perde na artilharia para o Pelé e o Romário. E é uma pena que só tivesse ficado no Flamengo a temporada 1973-1974, justamente quando o Galinho de Quintino começava a pôr os esporões de fora. 

Quanto à Estação do Mosquito, onde hoje se acham muito bem plantados vários prédios de apartamentos, restou completamente sem memória, apesar de toda a curiosidade do nome. Que pode ter havido naquele pedaço de várzea antes da criação de Marechal Hermes? Mistério a ser pesquisado. Nos sistemas de busca internéticos não encontrei nada. O jeito é apelar para os velhos métodos: vou perguntar ao bispo. 


[9.9.2206]