Rosa X verde

A árvore desnuda, estende impudicos braços para cima, buscando nas alturas um pouco da umidade que lhe é negada no chão.

Os dias passam e uma a uma as folhas se deixam levianamente carregar. É uma orgia de folhas rodopiando numa louca carreira dançando ao som do vento.

Os galhos desvestidos e o grosso tronco acinzentado dão a ela um aspecto estranho, uma ideia de ausências, só não parece desamparado em virtude das dimensões generosas.

Numa bela manhã, aqueles braços desnudos erguidos são abençoados. Ao longo de cada um aparecem delicados brotos rosados. A robustez do tronco com seus vários braços em atitude de petição, são agora adornados por delicadas brotações em rosa-antigo

Mais alguns dias e aquelas minúsculas brotações são agora retalhos. Pedaços de seda costurados delicadamente uns aos outros, dispostos ao longo de cada galho, balançando delicadamente.

Qualquer ventinho mais forte, dá início à uma dança desenvolvida por todos aqueles grupos vestidos em tons de rosa.

É uma festa. Ela durará dois ou três meses e então tudo aquilo adquire um tom mais escuro e desaba tristemente, enquanto uma nuvem verde vai cobrindo indiscrimindamente tudo, como se estivesse com pressa de retomar seu espaço. A nova estação tem fome de verde e da noite para o dia tudo adquire sua coloração.

Esse processo, essa metamorfose é uma renovação cíclica, que inicia em todo agosto ou setembro.

É a vida acontecendo, bela ou feia, cinzenta ou colorida, triste ou festiva.

O homem, parte de tudo, acostumou-se a não ver nada daquilo, correndo, olhando pra baixo onde só se vê o escuro asfalto.