De inquestionável melhor do mundo a “elefante branco”

O que você faria se tivesse uma peça de alto valor financeiro, sobretudo, sem utilidade, e ninguém disposto a pagar o valor de mercado? Sem dúvidas, uma situação complicada.

Essa peça valiosa é Kaká, meio-campista do Real Madrid.

O jogador se transferiu do Milan para o clube espanhol, em 2009, pela quantia astronômica de 67 milhões de euros (160 milhões de reais nos valores atuais) por um contrato de seis temporadas.

Apesar do forte investimento do clube madrilenho em jogadores caros, como Cristiano Ronaldo, maior negociação da história do futebol (cerca de 94 milhões de euros), a primeira temporada do Real não teve títulos.

No clube espanhol, Kaká, reconhecido pelas arrancadas fatais, ainda não havia apresentado o mesmo futebol encantador e objetivo dos tempos de Milan.

Sem um histórico de graves lesões, a má fase do jogador se acentuou quando descobriu que tinha uma pubalgia crônica (inflamação na região do púbis), na temporada 2010/2011.

O brasileiro foi alvo de muitas críticas. Pesadas críticas. O seu profissionalismo foi colocado em cheque. Os críticos diziam que ele estaria se poupando para a Copa de 2010.

Dentro e fora de campo a fase não era boa. O Jogador estava abalado. Pudera.

Segundo o diário espanhol Marca, o brasileiro passaria a fazer 30 minutos diários de exercícios extras antes e depois dos treinos, como tratamento para combater a doença, além do treinamento habitual com os outros atletas.

No Mundial de Seleções de 2010, o meio-campista apresentou apenas lapsos momentâneos do futebol que o consagrou como melhor jogador do mundo da FIFA, em 2007.

Com o então camisa 10 da seleção ainda lesionado, o Hexa não veio. Kaká lamentou. Somente com a eliminação do Brasil do torneio, Kaká revelou que não estava 100 por cento fisicamente.

Mais uma vez foi severamente criticado. Poderia ter cedido a posição a outro jogador em plena forma, dizia a imprensa especializada.

Na última temporada pelo Real Madrid sob o comando técnico português José Mourinho (2011/2012), o brasileiro, aos 30 anos, teve uma visível evolução, apesar do pouco espaço na equipe. Aos poucos o meio-campista parece recuperar a velha forma.

Jogou 27 partidas. 17 como titular. Marcou cinco gols e deu seis assistências que resultaram em gol.

Apesar de entrar sempre próximo aos 30 minutos do segundo tempo, Kaká, ao final da temporada, contabilizou um gol a mais que o titular da posição de meio-campo, o alemão Mesut Özil.

Longe da melhor forma física, mas em constante evolução, o brasileiro literalmente assistiu Cristiano Ronaldo cair nas graças da torcida. 56 gols na temporada. O português foi estupendo.

No entanto, mesmo com a evidente evolução de um jogador que já mostrou do que é capaz, o técnico do Real Madrid, José Mourinho, declarou publicamente diversas vezes que não pretende mais contar com o atleta no elenco.

Compreensível. Kaká custou caro de mais ao clube. E toda a expectativa sobre o jogador não foi revertida em títulos.

Além do mais, em virtude da crise econômica na Europa, os clubes têm feito cada vez menos investimentos exorbitantes.

Mourinho já deixou nas entrelinhas que Kaká é negociável e que pretende liberá-lo. Contudo, o Real Madrid precisa diminuir o prejuízo do investimento de 67 milhões de euros no jogador, que é inevitável.

O clube só vai escutar propostas pelo jogador quando a oferta for superior a 20 milhões de euros (50 milhões de reais).

O Milan sonha em repatriar o brasileiro que encantou o mundo com o fantástico futebol jogado na equipe. No entanto, o esforço do clube Rossonero parou nos 15 milhões de euros (37 milhões de reais).

Agora, quem vem investido forte são os norte- americanos do Los Angeles Galaxy, atual clube de David Beckham. Dinheiro não falta.

Kaká teve contato direto com dirigentes do clube americano quando estava com o Real Madrid em pré-temporada nos Estados Unidos para um tour de amistosos.

Inclusive contra o próprio Galaxy. Na partida, o brasileiro não jogou bem. No amistoso seguinte, contra o Benfica, repetiu a fraca atuação.

No inicio de agosto, o jogador se reuniu com Mourinho para decidir seu futuro na equipe. Mourinho o aconselhou.

“Kaká vá jogar nos Estados Unidos. É o único lugar no mundo que pode pagar seu alto salário de 12 milhões de Euros por ano” – quantia equivalente a aproximadamente R$ 30 milhões.

Kaká está confuso, infeliz. Mourinho sabe o que diz. O jogador é um “elefante branco” para o clube espanhol. O técnico também está certo quanto ao poder econômico do Galaxy.

Segundo o jornal esportivo As, o time estaria disposto a pagar 27 milhões de euros (67,3 milhões de reais), até 2015. Duas vezes mais do que recebe no Real.

Com o contrato de Beckham chegando ao fim (dezembro de 2012), o Galaxy está à procura, sobretudo, de um jogador midiático que possa substituir o jogador inglês à altura no agressivo marketing do clube, que gera satisfatória receita.

Kaká já é um rosto conhecido dos norte-americanos, devido o país ser destino habitual das férias do jogador e, também, pelo futebol estar em ascendência nos EUA.

O jogador já revelou várias vezes o desejo de jogar na Major League Soccer (MLS, a liga de futebol estadunidense). Mas ele sabe que essa não é a melhor escolha no momento.

Transferir-se do Real para o Galaxy acabaria com qualquer chance do brasileiro voltar a vestir a camisa da Seleção Brasileira e se consagrar o melhor do planeta novamente.

Precisa se decidir. A janela de transferências na Europa encerra no dia 31 de agosto.

Com 30 anos, Kaká ainda pode ser um jogador essencial para qualquer equipe e para a Seleção Brasileira.

Trilhar o mesmo caminho do fim da carreira de Pelé (jogar nos EUA) seria um erro.

O Rei do futebol chegou ao New York Cosmos aos 35 anos, para encerrar uma carreira vitoriosa. Pelé poderia ter ido além. Tinha boa forma física.

Agora, Kaká precisa se espelhar em outro jogador. Em Ronaldo. Talvez o maior exemplo de superação, na memória recente dos brasileiros.

Dois anos parado por conta de uma lesão. Voltou para se sagrar o maior artilheiro de todas as copas e penta campeão.

Talento, técnica e profissionalismo Kaká têm de sobra. E o Brasil só quer de volta um autêntico camisa 8. Longe dos truculentos candidatos que temos que engolir para Copa de 2014.

Paulo Marinho Junior
Enviado por Paulo Marinho Junior em 25/08/2012
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