A viúva e seu sogro
Ele está a caminho dos altos aonde deixará os rebanhos passarem a primavera.
Na porta de saída da cidade, uma meretiz com seu coloridos véus e rosto velado, chama sua atenção.
Toma-a e diz que lhe mandará um cordeiro de seu rebanho como pagamento. Ela pede-lhe um sinal como garantia e ele entrega-lhe um bordão e um anel de selo.
Ela sai imediatamente dali e vai pra casa.
Quando ele desce dos montes ao fim da primavera, procura-a no mesmo local, sem encontrá-la. Interpela alguns moradores e eles são unânimes em que lá não nunca houve prostituta cultual que se assentasse às portas da cidade. Ele assente e vai embora, concluindo que ela não requer pagamento. Fará outro selo e preparará outro bordão, afinal não faltam acácias nas redondezas.
Dois meses passam-se e ele volta a cidade para negociar carneiros.
É avisado pelos conhecidos de que sua nora viúva está grávida, quando cumpria-lhe desposar o novo marido cujas negociações ele encaminhava.
Manda busca-la pra proferir seu julgamento sumário, que indica um apedrejamento.
Ela aparece altiva, exibindo uma escandalosa gravidez que o manto de viúva não esconde.
Ele manda despojá-la do manto que insulta a memória de seu filho morto.
Aquele tribunal fora arranjado ás pressas na porta da cidade, para servir de exemplo a outras que se atrevessem a violar um tão rígido código de conduta.
Ela não se intimida e puxa de um saco dois objetos que apresenta diante de todos.
Mantendo pudicamente o véu sobre os cabelos presos em seu traje de viúva, antes que lancem mão dela para apedrejá-la e sob os insultos de uma furiosa turba masculina, ergue alto acima da cabeça um anel e um bordão e pergunta em voz alta, olhando firmemente o sogro.
– Do homem dono destes anel e bordão é que engravidei; o senhor reconhece?
Diante do olhar aparvalhado dele e de seu amigo, o barulho decresce.
Ele que estava gesticulando imperiosamente, sentindo-se um grande e justo juiz, abaixa a cabeça e fala num tom que aqueles mais próximos ouvem.
– Ela é mais justa que eu. Deixem-na ir.
O tribunal é dissolvido e ela contnua a encará-lo sabendo de seus direitos e da falha dele, enquanto ninguém mais diz coisa alguma.
Ele retorna à sua cidade e ela permanece na casa do pai até que o filho nasça