SÁBADO - CARNAVAL : Confete, Serpentina e... sem Lança-Perfume
SÁBADO - CARNAVAL : Confete, Serpentina e... sem Lança-Perfume
Por Néveo J. Bello (achado no fundo do Baú)
(Sábado(Carnaval) 21/2/1998.=20,55h.)
Lança-Perfume ? Vovô ? Pergunta minha neta Thamires, de 9 anos. Ë, interfere meu neto Thiago,(seu irmão) de 12 anos (o primeiro neto). Eu já ouvi falar nisso já por um pai de um colega de Escola, mas não entendi direito, o senhor poderia nos explicar ? Chamando sua prima Marjorie, minha terceira neta, para ouvir o que eu ia dizer a respeito.
Sim meus queridos, pois já faz tanto tempo que ninguém tem paciência para ouvir eu contar uma história, como se fazia antigamente, quero dizer, assim , quando tinha a idade de vocês.
Bem... sobre o Lança-Perfume, que se usava nos Carnavais, assim como o Confete e a Serpentina que vocês já conhecem era um tubo de vidro no começo, depois de metal, porque o de vidro era fácil de se quebrar e machucava as pessoas facilmente, as vezes. Então olhem aqui, assim como estou desenhando neste papel. Tinha mais ou menos uns 10 a 15 centímetros e apertando esta pecinha aqui na ponta, que parece uma pequena alavanca. ela se abria na ponta do tubo que tinha uma borrachinha com um furinho no centro e com a pressão que havia lá dentro espirrava até alguns metros o gostoso perfume .
Bem, muito bem, OK, disseram mais ou menos assim os três mini ouvintes da minha ilustre palestra. Mas... para que servia isto ?
Como, para que servia isto, fiquei espantado. Para se divertir no Carnaval, oras bolas. É que neste ínterim havia me distraído com a chegada de mais três pequenos netos, a Natalie, de 3 anos, irmã da Marjorie e os dois irmãozinhos, Jéssica, de 4 anos e Victor Luiz , de 2 anos. Estes 3 últimos que chegaram com a mãe e tias. (Minhas filhas, lógico). Foi daí que depois do reboliço do encontro dos seis netos, caí na real e me toquei que estava ali antes, justamente para explicar o que era o Lança-Perfumes, que eles nunca viram e por isso logicamente não conheciam.
Assim depois de acalmar os ânimos da criançada, sendo ajudado pelo Thiago, Thamires e Marjorie, os outros três recém chegados também se acomodaram em círculo, à moda antiga, prestando muita atenção na continuação da minha Tese, sobre o ´ bendito ´ Lança-Perfume.
Continuei então: O Lança-Perfume, assim como o Confete e a Serpentina que vocês já conhecem e usam para brincar quando vão nos Bailes Infantis de Carnaval, ele também era usado para nos divertir aos Bailes Carnavalescos e também nas ruas onde havia desfile de Carros Alegóricos, Carros de passeio conversível e até Caminhões todos enfeitados, além dos Carros Alegóricos dos Clubes que desfilavam com as pessoas em cima , cantando e dançando , jogando os confetes e serpentinas para as pessoas que lotavam as calçadas laterais, também para as pessoas que se postavam nas sacadas e janelas dos prédios, que estes também retribuíam, lançando punhados de confete e arremessando as serpentinas para aqueles que passavam. (Neste ponto precisei também explicar o que era Carro Alegórico). Continuando então, expliquei que juntamente com esta brincadeira das Batalhas de Confete e a Serpentina , espirrava-se também o “galã” desta história, o Lança-Perfume, como um gesto de carinho, tanto nas brincadeiras de rua como nos Salões, perfumando a outra pessoa com aquele perfume “gelado”, em seu pescoço, peito, nuca, enfim....Ah ! Já sei, disse rapidamente o Thiago. Já sabe o que retrucou a Thamires. É isso mesmo falou a Marjorie. Daí ficou difícil para eu por ordem no Barraco, com a participação dos três : Natalie, Jéssica e Victor Luiz, cada um com um seu “assunto importante” para ser explicado, que não tinha nada a ver com aquilo que eu estava falando. Mas... criança é mesmo assim... que belezinhas.
Tudo certo agora ? Siiiiiiimmmmmm, responderam.
Então escutem só mais um pouco, que já vou terminar esta história. Siiiimmmmm.
Bem, assim como já aconteceu com tantas coisas que inventaram para ser usado para o bem da humanidade, e vocês irão presenciar isto no decorrer de suas vidas ainda. O nosso querido Lança-Perfume, que tanto prazer nos dava no Carnaval, nos alegrando nas brincadeiras, algumas pessoas maldosas, por puro prazer de judiar de outra pessoa, espirravam o dito cujo, não para brincar, mas para prejudicar, mirando e acertando diretamente nos olhos de outras pessoas. Mesmo eu, meus queridos e santinhos netinhos, na época levei belas jorradas de Lança-Perfume em meus olhos e quero dizer, nem sei como descrever para vocês como ardia, queimava tanto que não se agüentava abrir os olhos e com eles fechados ardia mais ainda. Não se tinha saída, não se enxergava por alguns momentos, posso comparar para vocês como se fosse pimenta nos olhos.
Oras bolas. Isso não é brincadeira. Com isso saía até muita briga.
Foi quando um Homem, chamado Jânio Quadros, munido de poderes para este caso, que começou sua vida profissional como Professor, ingressando na política, se elegeu Vereador em São Paulo, depois Prefeito da Cidade de São Paulo, também Governador do Estado de São Paulo. Chegando à Presidente da República, conseguiu que fosse aprovada uma Lei proibindo o uso do Lança -Perfume, pelo uso indevido e mesmo porque ele próprio já quando ainda moço, a visão em uma das vistas fora prejudicada, porque “alguém espirrou Lança-Perfume nela”.
É por isso que desde então nós não temos mais o lindo e gostoso Lança-Perfume, que como o próprio nome já diz , perfumava as pessoas os Salões e ruas dos nossos Carnavais.
Daí , foram chegando perto de nossa roda de conversa o meu filho caçula, mas já moço feito, as minhas filhas e genros, minha esposa e sogra , convidando para o jantar.
Mas a criançadinha e os maiores ficaram super interessados nesta história e gritavam, conta mais, conta mais...
Bem, eu disse, agora vamos jantar. Vocês querem que amanhã , sentemos novamente aqui e o vovô conte outras histórias ? E gritaram que sim. Então fica combinado, amanhã e todos os dias que for possível, nós nos reuniremos e eu contarei uma nova história que eu vivi. Oba, gritaram! Levantamos, lavamos as mãos, sentamos à mesa para nossa refeição.
Percebi que meus netos, apesar de outros assuntos durante o jantar, continuavam alegres e conversavam entre eles, não sei o que...
Mas eu. Ora eu. Eu estava até já sem fome. Tanta era a minha alegria de poder ter passado alguma coisa para esta nova geração e mais ainda de ter encontrado alguém que parou por algum tempo para me escutar. Porque quase ninguém mais conversa, conta suas histórias, porque os outros estão sempre com pressa, ocupados ou vendo televisão e se falar atrapalha
Graças ao Bom Deus , agora já tenho a platéia garantida para as próximas reuniões.