HOMEM DE FIDELIDADES

Nasceu na Rua Velha,

Que nem este nome tem,

Pois na verdade é o encontro

De dois logradouros:

PRAÇA JOÃO LEOPOLDO-

Nome de seu avô paterno-

Com uma nesga da AVENIDA GETÚLIO VARGAS.

E ali uma vida inteira viveu:

Cresceu,

Casou,

Viu os filhos nascer

E se desenvolver.

Depois vieram os netos:

Novos grandes afetos

Na mesma casa sempre a viver

Tendo a doce e dedicada

Companhia

De sua muito amada

MARIA.

Tão amada

Que a ela sempre dizia

Que se ao morto fosse dado

Permissão

Para com os vivos comunicar

Todo santo dia

Ele viria

Carinhosamente afagar

A cabeça de sua MARIA.

E que, em noite alta, ATÉ

Puxar-lhe o dedão de um pé.

Era sempre dessa maneira

A convivência com a companheira:

União e saudável brincadeira.

.Assim fez-se fiel ao mandamento

Assumido no casamento

Tal como desde sempre ouviu:

Não separem aqui na terra

Os que lá em cima Deus uniu.

Teve por ofício amenizar as dores

De crianças, senhoras e senhores.

Sua profissão por toda a longa vida

Foi vender medicamentos,

Aliviando tormentos

Com demais complementos:

Fazer curativos, aplicar injeção,

E na hora de o remédio despachar

Ainda prestava favores

Procurando decifrar

A letra nem sempre legível

De alguns ou muitos doutores

Para o produto não ser tomado

De um modo que fosse errado,

Evitando que maior mal fosse causado.

Farmácia instalada

Em apenas dois lugares

De sua nativa cidade.

Enfim,

Era assim:

Mesma rua, mesma casa,

mesma profissão,

Uma só companheira,

Sua Maria de uma vida inteira.

A mesma Igrejinha

Que nele presença certa tinha.

Por isto quando a nossa cidade

Perde sua física presença

Pronuncio aqui esta sentença

E sei que falo a verdade:

Antônio Muniz Leopoldo

Deve passar à posteridade

como o HOMEM DA FIDELIDADE!

Quanto a mim, a imagem que dele ficou

E em minha memória congelou

Foi como a de uma fotografia:

Eu passava em calçada do lado oposto

De onde estava a farmácia sua

E acenava.

Ele, que sentado ficava,

Sorridente rosto revelava.

Estampava a serena alegria

De quem

De bem

Com a vida vivia.

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 17/08/2012
Reeditado em 19/08/2012
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